A
MOSCA E EU
Nerino de Campos
A vontade aumentava e eu ia blasfemando a fragilidade humana, essa necessidade de ingerir, digerir e excluir. Ingerir às vezes sem necessidade, como se aproveitando o máximo da derradeira refeição, e logo em seguida, excluir; se bem que poucas vezes em situações inusitadas como a que eu me encontrava: caminhando, suando, blasfemando, mas impossibilitado de tomar uma atitude.
Entrei numa lanchonete. Não havia banheiro. Pelo menos não havia uma porta fora do balcão que se pudesse julgar ser um banheiro. Lembrei-me dos lotes vagos que existiam na cidade. Talvez uma moita e algumas folhas me fossem de grande utilidade naquele momento. Apertei o passo em direção ao meu apartamento. Parei de blasfemar e passei a pensar em Neurocirurgia Estereotáxica.
Não adiantou! No elevador, que felizmente estava vazio, uma mosca rodeou a minha calça branca, talvez procurando uma maneira de ingerir o que eu acabara de excluir.
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