JACA COM MORANGO
Luciana Ribeiro
Os pedintes estão ficando bastante criativos. E eu não estou falando desse negócio
irritante de colocar um saco de balinhas no retrovisor dos carros parados no farol, porque
isso não é coisa de pedinte, mas de empresário explorador de miséria.
É que antigamente o discurso era sempre o mesmo: "estou sem trabalho e preciso de
dinheiro para comprar leite pros meus filhos".
Hoje é diferente, o pessoal arruma motivos muito mais criativos - e talvez muito mais
sinceros - para pedir esmola. Há algum tempo um homem me abordou na rua pedindo
dinheiro para comprar fralda descartável para a sua filha.
Provavelmente, o dinheiro do leite ele já tinha, mas ele tinha razão, lavar fralda é horrível
e depois que inventaram as descartáveis não dá mesmo para resistir à tentação de embrulhar
o bebê naquele pedaço de plástico absorvente.
Fralda descartável deveria fazer parte da cesta básica. Pergunte para qualquer mulher que
tem de lavar diariamente fraldas e fraldas sujas de cocô se essa é ou não é uma necessidade
básica.
E agora há pouco eu estava sentada na frente do computador tentando encontrar inspiração
para mais uma crônica quando tocou a campainha. Era a inspiração.
Quer dizer, era uma mulher pedindo desculpas pelo incômodo e me contando que era
carroceira, mas que hoje não tinha conseguido a carroça no ferro-velho. O problema é que ela estava grávida
de seis meses e com um desejo enorme de comer jaca com morango (!), por isso ela estava
pedindo esmola.
Não dei o dinheiro mas me arrependi. Quem tem vontade de comer jaca com morango precisa
mesmo de ajuda.
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