ANGINA
Luciana Pareja Norbiato
Perdi o fio da meada.
O trem desengatou no meio da estrada
E me sentei no meio fio, chorando a esmo.
Há um amargo travo em meu peito,
O frio no meio do verão, mau agouro,
Anuncia que minha tristeza já não cabe em mim
E extrapola na meteorologia.
Não queria ser a responsável por meu dia negro,
Queria culpar o medo,
Culpar meu emprego,
Apontar o dedo para qualquer um ou coisa que pudesse,
Ah, quem dera,
Pagar o preço que a vida me apresenta.
Não adianta, e não mais agüento
Ser cobrada por contas atrasadas que eu mesma inventei
Sob pretexto de ser feliz,
Mas querendo ser menos, porque é mais cômodo.
Nesse caso, a tristezinha que sinto é pouca,
Está de excelente tamanho.
Vou abrir meus armários e quebrar toda a louça
Velha, que herdei dos meus pais, que herdaram de meus avós
Que herdaram do mundo,
Que não dá nada sem exigir em troca nossa alma.
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