FOGÃO DE QUATRO PORTAS
Jayson Viana Aguiar

Conversa vai, conversa vem, e o assunto veio parar no fogão.

Era um jantar íntimo de família, com alguns irmãos, cunhados, tios, primos, sogros e pais. E do tema casamento, acontecimento que brevemente será vivido por uma das primas então presente, derivou-se em fogão. Partia-se no princípio de que, para casar, além do teto, bastava o colchão, a geladeira e o bendito fogão. Com tão pouco de fundamental para se casar, apenas três acessórios, discutiu-se a necessidade da melhor qualidade do trio. As marcas do colchão e da geladeira que tinham melhores qualidades foram consenso rápido e unânime, todavia, a escolha dos atributos do fogão gerou mais polêmica. Qual marca? Quantas bocas? Quantas funções? Embutido ou não? Qual a cor?

Primeiro se pronunciou um casal de tios. Ela foi logo defendendo a marca de fogão "C" que usavam em casa; que esta marca de fogão isto e aquilo. Até que seu esposo, em um momento em que ela tomava fôlego para continuar sua defesa, tomou a palavra para dizer que eles usavam era a marca de fogão "B" e não a que ela advogava. Bem que todos estavam desconfiando, já que titia não sabia nem onde era o botão de acendimento automático: ela tinha cozinheira.

Outro a se pronunciar foi meu sogro:

— Independentemente da marca, você, minha sobrinha, deveria comprar um fogão de quatro portas. — Com tal declaração, trocaram-lhe o copo de cerveja por um de refrigerante.

A discussão seguiu até pelas veredas da origem da marca, se nacional ou estrangeira. E os ânimos já estavam se exaltando, quando um alguém mais sensato perguntou ao casal que iria se casar:

— Qual de vocês dois sabe cozinhar?

— Nenhum de nós! Comeremos de marmita!

Todos então calaram a discussão como que revoltados pela declaração.

* * *

O meu sogro, que novamente bebia cerveja, propôs então:

— Melhor, neste caso, debatermos onde eles comprarão a melhor marmita.

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