O PASSO
François Porpetta

Ele caminhava novamente. Aquela mesma caminhada, a esta altura dos fatos tão indesejada quanto impossível de ser evitada. Achou-se, numa surpreendente tarde de chuva fina e morna, caminhando imerso na calçada quebrada.

Era apenas o primeiro passo dessa nova jornada, e seus pés, que pousavam lentamente na calçada rachada pelo calor escaldante, pareciam já conhecer o caminho - qualquer fosse a direção.

Primeiro o calcanhar direito, e depois o pé se estendia alquebrado, num movimento tão lento que parecia tocar o solo átomo por átomo, até conseguir finalmente pousar em toda sua extensão possível sobre o chão descuidadamente desnivelado. 

Enquanto isso a ponta do pé esquerdo já estava pronta para impulsionar um novo bote, e foi ela que chamou sua atenção: era esse o primeiro movimento daquela que poderia ser a última significativa caminhada de sua vida.

Suava e ofegava — não era acostumado a viver fora do ar condicionado —, mas esse momento marcou a tarde que se iniciava, e quem sabe até o próprio ano que já se aproximava do fim. Fim que não seria o seu. Este passo era apenas um começo, e ele não iria se furtar a tentar todos os passos que fossem necessários. Caminhar sempre fora sua especialidade; desfrutava cada passo das longas caminhadas já vencidas como se fossem goles do mais fino licor.

Não seria essa que iria vencê-lo — ao menos assim ele ousava pensar. 

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