AMANTES
Claudio Alecrim Costa
Enquanto apertava o nó da gravata, pela manhã, percorria o corpo de Mara com os olhos derrapando em suas muitas curvas e sentindo aquele frio na barriga pelas descidas que sugeriam suas longas e delgadas pernas. Era perfeita, e dormindo parecia uma obra de arte esculpida. O lençol cobria parcialmente a sua nudez o que acrescentava pimenta naquele prato que convidava.
Ela se mexeu suavemente, ainda em profundo sono. Estático e com os olhos cristalizados pela visão daquela mulher, já sufocava apertando a gravata sem me dar conta. Afrouxei o nó e respirei entre aliviado e realizado pelo amor de Mara.
Todo esse momento mágico se quebrou como um cristal quando o interfone tocou estridente.
— Meu Deus! Mara...! Ela deu um salto da cama e me interrogou: - Será que meu marido voltou antes da hora?
— Está louca? Disse-me que ele ficaria fora por um mês. Falei enquanto procurava objetos que pudessem me denunciar.
— Deve ser ele... Ele vai me matar. — Matará a nós dois! Retruquei. Uma correria dentro do quarto lembrava uma cena grotesca de filmes mudos. Arrumávamos a bagunça nos dando ordens e cumprindo as mesmas num só tempo. O interfone tocou novamente, agora, mais persistente.
— Você tem que atender... Gritei. Ela foi para sala com um vestido cujos botões abotoava de qualquer maneira. Atendeu e confirmou a presença na portaria do marido.
— É ele! — Quem? - Meu marido! — O que faço agora? - O armário... — Todo amante é encontrado em armários nas
piadas... — Isso não é uma piada, seu idiota... — O que disse? — Desculpa, é que estou
apavorada.— Repita o que você disse... — Disse que você era um idiota...
Mas... — Exijo uma desculpa... — O quê? Sentei na cama com os braços cruzados e me coloquei a esperar por uma justificativa pela agressão.
— Está louco! — Você me magoou... O interfone tocava sem trégua. Ela se aproximou de mim e senti suas mãos correrem pelo meu corpo até me abraçar. De repente, me afastou com uma expressão de terror...
— Você não se dá conta do que está acontecendo? — Está me agredindo novamente?
— Não! Quem fará isso será o meu marido. Fui para a janela e cruzei os braços, decidido:
— Não saio daqui com esse clima... — Tem que sair! Depois discutimos a situação...
— Basta o seu marido tocar que tudo muda... — Somos amantes! Adúlteros! —
Eu te amo! — Eu sei... Mas agora temos que arranjar um lugar para escondê-lo...
— Tem vergonha de mim... Alguém abriu a portaria e a companhia passou a tocar.
— Vamos ser mortos... Ele é muito ciumento! Levantei-me e passei por Mara, que me olhava atônita, e abri a porta. Um Homem com expressão de espanto me encarou e tentou uma frase. O interrompi com lágrimas nos olhos:
— Não se preocupe... Está tudo acabado entre mim e sua mulher...
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