QUAL É O TEMA, D.
ROSA?
Carlos de Paula
Lá vou eu para a primeira fila, que agora a coisa é séria, é hora de sentar perto da professora, a hora é essa! É aula de sabor, de delícias escorrendo pela mente da gente, de sonoridades empolgando nossos ouvidos, galopando em nossos corações. Na grade horária está escrito Português, mas eu leio, escuto, cheiro, tateio D. Rosa.
Com D. Rosa eu vou às livrarias ganhar de presente Machado de Assis, Maurice Druon, Saint-Exupery, Drummond de Andrade, José de Alencar, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, é com D. Rosa que eu vou. Na saída uma parada na lanchonete que fica no subsolo do Edifício Garagem, comer um sanduíche de lombinho com abacaxi, comentar sobre o livro que estou lendo, vê-la sorrir me vendo comer e falar sem parar. Sempre fui matraca.
Na primeira fila, quase sempre ao lado de sua mesa, é de D. Rosa que ouço o tema da redação para a turma, para logo depois, sorrindo, dizer para mim: "Já sabe, p´ra você tema livre." Ah, D. Rosa, a senhora não temia me deixar despreparado para o vestibular, né, não? Eu ainda tentava, de pura provocação, trazer as regras para mim: "Quantas linhas no mínimo, mesmo?" Ela fingia que ficava chateada, balançava a cabeça e respondia: "Você não precisa disso... Escreva!"
E como eu escrevia, D. Rosa, como eu escrevia. Como era bom vê-la corrigindo minhas falhas, meus tropeços, sendo benevolente com meus garranchos e desrespeito à língua mãe.
O tema era livre, D. Rosa, e eu me sentia liberto, solto para flanar sobre a gramática, sobre a ortografia, e deixar correr no papel meu sentimento.
Com o tempo, D. Rosa, fui ficando preguiçoso. Não deixei de escrever, nunca. Volta e meia, surge uma poesia, ou pelo menos algo que creio ser poesia. Mas as longas dissertações, as crônicas, os relatos, foram minguando.
Até que surgiu D. Anna, D. Rosa. E me fez voltar a escrever. Acredite se quiser, sempre sob e sobre um tema. Eu escrevendo orientado por um tema, e sentindo prazer nisso. A senhora precisava ver. Aliás, tenho fé que um dia verá isso. Não hoje, um outro dia. Porque hoje, D. Rosa, adivinhe qual é o tema?
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