LIQUIDAÇÃO DE NATAL
Argento
 

Era uma típica professora de escola do governo. Como de costume havia recebido o seu décimo-terceiro salário às vésperas do Natal e sabia que iria precisar fazer milagre para esticar o seu pró-labore, já tanto carcomido pelos "gênios da economia", na tentativa de fazer suas compras natalinas.

Pegou todo o dinheiro que sabia que poderia gastar nessa empreitada e partiu para a batalha em busca de preços módicos e liquidações de última hora na famosa, conturbada e calorenta região do Saara, mais precisamente na rua da Alfândega, cidade do Rio de Janeiro.

Suou a camisa, mas conseguiu realizar a árdua tarefa, comprou presente para toda sua família. Ao final resolveu comer uma empadinha de galinha, engolida a seco por nossa magistral heroína. Entrou então no lotação esbaforida, cansada, sedenta e cheia de sacolas na mão. Ao tentar cruzar seu último obstáculo em direção ao paraíso, aconteceu a tragédia : Nenhum mísero tostão, "Pelé, nem Jarzinho" havia sobrado.

Ficou então em pânico e chorou, queria pagar em cheque, obviamente não aceito pelo trocador. Tentou, em vão, convencer ao pobre do motorista a desviar o trajeto e passar pela sua casa, para que pegasse o último trocado de seu esfarrapado salário.

Lembrou-se então do seu erro fatal : Fora a tal da empada a bendita culpada, pela primeira vez a azeitona inocente escapou pela tangente, aos prantos lembrou do velho ditado, agora por ela adaptado : "Liquidação de natal em bolso de professora dura, tanto bate até que fura !".

 
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