PALAVRAS
E UNHAS
Adilson Sobrinho
Somos privilegiados por ainda podermos passar os olhos em escritos de Affonsos, Mários, Carlos, Adélias e Florbelas, estes todos que mesmo nas asperezas, suavemente nos alimentam de palavras certas.
Queria saber usar a palavra sem imprimir-lhes unhas.
Queria receber só palavras bem intencionadas, que nunca me arranhassem a alma.
Palavras são punhais, por vezes fazem sangrar.
É possível e vital que estivéssemos vez em sempre drummondiando nossos sentimentos e, os fizéssemos sair pela boca como sons de um dedilhado nas cinco cordas de um quintão, como Quintana dizendo dor, com o mesmo doce que diz amor.
Para que pressa em visita aos campos das entrelinhas ou aos prados de Adélia?
Por que não aprender novas e belas palavras, distribuindo-as como doces, balas ou coisas que só dão prazer ?
A vida não é um ensaio, a vida é pra valer !
Quero podar as unhas de minhas palavras, entrelaçar poesia em minhas críticas e, ter a consciência que a melhor maneira de fazer, é sendo.
Não deve haver pressa, com ela , apenas tocamos levemente a superfície das experiências, e empurrados pela velocidade tecnológica de um progresso pseudológico, nos falta o tempo da boas e velhas falas.
Não quero apenas uma dor, quero mil, Millôr, fazendo chacota do ridículo e superando-se em frases ainda não ditas.
Me ensina Álvaro, me ilumina Pessoa e, nos mares nunca dantes navegados das letras, me dê Caminha, o leme, a vela pra que eu caminhe imponentemente sobre vocábulos.
Luíz que eu dê com as mãos, poesias que me ensinastes !
Caetano, quero-te velô, veloz, velando pela minha língua, mátria, frátria e livre-a da emissão de escárnios púdicos e cortantes.
De Francisco, luz, quero luz que me leve à medida de um bom fim com o perdão dos inevitáveis intertextos.
E na busca da boa palavra, quero Fernando Abreu, me ensinando a pentear os pensamentos matinais e não deixando que eu cale, que eu caia.
E como que em promessa eu prometo, em minha antecâmara do inferno,
Fernando, não caio.
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