CARTA
A UM AMOR PERDIDO
Paulo Panzoldo
Sento na areia. A brisa bate em meu rosto. Faz calor. Enquanto isso, o Sol vai seguindo seu destino. Triste destino. Afinal, para ele, todos os dias são iguais, não são. Ou será que uma nova Terra também nasce para o Sol todos os dias? Do bolso pego a caixinha. Dentro, o Prozac. Fecho. Quem precisa dele agora, afinal? Um grão de areia incomoda meu olho. Foi de um grão de areia que nasceu o nosso amor, lembra? Uma dor, uma carta, uma paródia. Um perdão? Uma vingança? Como o grão dentro da ostra, a dor se transformou em pérola. E lá está ela, a Estrela da Tarde, a me lembrar, noite após noite. Você dizia não gostar de olhar estrelas, que elas eram o passado. Pois eu, em pouco tempo aqui sentado, já olhei foram duas e não te achei. Serão mesmo o passado? Você dizia que preferia olhar as ondas do mar, que se renovam. E eu tento olhar o mar, esse devorador, lavador de almas, e me lembro daquele caramujo. Uma lágrima se faz presente. Não quero chorar. Choro. Oi, Gi, eu escrevia. E você respondia: Oi, menininho; Oi, querido; Oi, amorzinho. De você, apenas uma imagem e um som de voz. De frente pro oceano, imagino o mar de informação que esses sinais todos atravessavam para chegar de você até mim. E de mim até você. Valentes sinais. Não são como eu, covarde, que te perdeu, talvez, por medo. Esse medo neurótico. Medo maldito. Medo de não ser merecedor de amar alguém como você. Você me amou também, e sabe disso. Nos amamos tanto que pensamos que amar seria impossível, afinal, parecíamos mais dois irmãozinhos guardando o segredo de uma travessura adiada. Pai. Seria eu um bom remendo pro teu filho? Ou receberia a mesma sentença dos meus? Hoje te liguei de novo. Os pi, pi, pi, pi indicavam: ocupado. Sempre e sempre ocupado. Mas criei coragem. Estou valente hoje, e liguei no celular. Um silêncio indicava para eu deixar uma mensagem na sua Caixa Postal, logo após o sinal. Deixei. Inútil, eu sei. Por isso, não deixo mais. Em meu dedo, um restinho de marca me lembra a terrível carnificina que você me propôs para a solução de um problema. Nunca mais ri. Só chorei. Como é triste o entardecer à beira-mar. Já é noite. Hora de ir. Só uma última palavra: saudade!
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