GAIA SOLAR
Eduardo Prearo

- I -

Tomo café imaginado,
filme de horror, turbulência
sem fim, medo de culpado,
fuga como quintessência.

Vou logo me retratar
vulgarmente, assim nervoso,
desesperado pra sonhar,
forçando o próprio repouso.

No penhasco vento forte,
imagem sagrada nítida,
sem graça, corpo da morte,
minha força ali detida.

Bicho preguiça nojento,
o demônio te enganou.
Me perdoem por ser lento,
por se assim como sou.

Indiferentes in totum,
Fahrenheit no lençol;
jamais, jamais ad libitum,
de urubus o meu atol.

Não tentei como devia;
é bem-feito agora tudo;
que juízo que se cria,
errado, é claro; sou mudo.

Vou pedir em coram populo:
-- Sou vadio quero um trocado!
Esperança num Deus nulo,
vou brincar como veado.

 

- II -

Mereci! Feito justiça
de crime desconhecido;
riram de mim na missa,
má fama de um falecido.

Se alguém me dissesse te amo,
estranharia mas tanto!
Se fosse aquela a quem chamo,
lavava a alma a muito pranto.

Do que me julgo aplaudiram;
estas leis são bem viris;
são leis de pombas que giram
e ninguém se contradiz.

Revelei meus pontos fracos
e não sei como. Escrevendo?
Tento juntar estes cacos
do amor...a mão vai tremendo...

De tropel danço pro rei,
pra esse rei; danço pra lua.
Já disse que nunca amei!
Atorzinho, mal atua...

Cest la vie! Fazer o quê?
Dai-me o que fazer, Jesus!
A pelica não se vê,
a francesa me traduz.

Gaia te adoro solar.
Enquanto giras azul,
anjos viajam por mar,
pra cá, do norte, do sul....

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