NÃO CONTE A NINGUÉM
Caio Beraldo

Dario estava feliz! Sim, por algum motivo que fugia à sua mente, Carol, uma menina linda, de quem ele gostava há tempos, realmente quis ficar com ele! Ali, no cantinho da balada, longe dos olhares dos outros amigos, que curtiam a banda que tocava ao vivo.

Mil pensamentos passavam por sua cabeça naquele momento: será que sua mãe “a aprovaria”? E sua avó? Mal podia esperar para apresentá-la à sua avó, que sempre perguntava sobre suas “paqueras”... finalmente teria alguma para apresentar! E os amigos? Que morressem de inveja, pois aquele gordinho, sempre sacaneado por eles, estava ali, ficando, como dizem, com talvez a menina mais linda daquele bar, naquela noite!

Dario queria compartilhar estes sentimentos com Carol, mas quando entre um beijo e outro resolveu dizer alguma coisa, acabou ouvindo uma coisa que carregaria por muito tempo:

- “Dario, eu gosto muito de você, mas queria te pedir uma coisa... ninguém pode saber sobre nós!”

Aquilo atingiu Dario como um tapa no rosto. Ela deu alguma desculpa esfarrapada, mas o motivo pelo qual ela queria segredo era óbvio: apesar de gostar dele, ela, linda daquele jeito, teria vergonha de andar por aí na companhia de um cara gordo como ele! Confuso, Dario, depois de algum tempo, concordou com a tal “condição”. Ele realmente gostava dela, a ponto de passar por cima de seu próprio orgulho para tê-la. 

Os próximos dias foram terríveis para ele. Sua auto-estima, que já não era das mais altas, caiu ainda mais, e ele deixou-se abater por uma terrível depressão! Pouco falava com seus amigos, uma vez que eles queriam saber o motivo de sua tristeza, e ele não podia contar nada!

Algum tempo depois, durante uma viagem, ele acabou confessando seu problema à pessoa com quem menos conversava, principalmente sobre tais assuntos: seu irmão! E, para a surpresa de Dario, ele lhe deu alguns conselhos valiosos, que realmente conseguiram erguer sua debilitada auto-estima.

Dario agora sabia o que fazer: acabaria tudo com Carol, e perderia peso, rápido! Finalmente tinha percebido que mulher alguma, ou melhor, pessoa alguma pode fazer à outra o que Carol tinha feito com ele! O que ela fez foi uma coisa terrível, inumana até! E mais, uma menina que se importasse tanto assim com a opinião dos outros só podia ter uma cabeça fraca, e logo se revelaria uma companhia insuportável.

Terminou então com ela, sem escândalos. Queria saborear sua vingança mais pra frente! Nada de jogar na cara dela tudo que pensava naquele momento! Passou então à segunda fase de seu plano, e tomado por tal enorme incentivo, conseguiu perder peso! Freqüentava academia, comia bem menos que antes, e se ocupava com outras coisas além da comida. Dario continuou a sair com seus amigos, e encontrava Carol às vezes. Eles, apesar de tudo, continuavam amigos, como se nada tivesse acontecido, pelo menos na aparência. Afinal, ambos concordavam em uma coisa: ninguém poderia saber de nada! 

Depois de algum tempo, Dario, quase magro, tinha sua auto-estima nas alturas! Ele quase não mais pensava em sua vingança contra Carol. “A vingança virá naturalmente, um dia”, pensava.

Certa noite, a turma resolveu se reunir em um bar, para comemorar o aniversario de uma amiga. Quando Carol, quase no fim da noite, chegou à festa, vestida para matar e linda como nunca, Dario ainda estava lá, e qual não foi sua surpresa quando ela sentou-se ao seu lado, o abraçou e apoiou a cabeça em seu ombro.

Carol o olhou nos olhos, e sob o olhar atento de todos à mesa, aproximou-se para um beijo. Dario virou o rosto, bebeu mais um gole de vinho, abraçou a menina também sentada ao seu lado, e disse: “Carol, quero que conheça a Daniela, minha namorada!”. Dario não podia acreditar que nunca reparara no amor de Daniela, que gostava dele há anos, mesmo quando ainda era gordo.

Estava com a alma lavada!

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