ALMA LAVADA
Adriana Vieira Bastos

Acabou! Entrou no carro e saiu cantando o pneu para abafar o som do choro descontrolado que tomava conta de si. Lágrimas inundavam impiedosamente seus olhos, colocando-a em perigo para enfrentar o ofuscar dos faróis que iria enfrentar no meio do caminho. Mas também não se preocupava, a vida tinha perdido um pouco de sentido... Em alguns dias, conheceu o choro da ira! Da raiva por ter se deixado levar por aquele joguinho estúpido de sedução barata, como se tivesse ali a solução para sua vida. Um mês depois, era outro o choro. O choro da idiotice! Como permitira se envolver com alguém tão escorregadio e disposto a viver apenas de "momentos"? Como fôra ingênua a ponto de acreditar que seria capaz de despertá-lo para o amor? No segundo mês, deparou-se com o choro da mágoa! Mágoa por terem aproveitado de sua carência. Este até que foi um choro confuso. Não sabia se embarcava na mágoa ou sentia pena da criatura. Afinal, alguém precisar se apoiar na carência alheia para surtos de auto-afirmação... Conforme o tempo ia passando com novo tipo de choro ia se deparando. Cada choro traduzia a emoção do momento. Dessa vêz, era o choro da revolta consigo mesma. Como ousara se entregar tão facilmente, mesmo sabendo não ter nada em comum com a a figura? Andavam sempre na contramão. Tinha de reconhecer: a carência era uma péssima influência... E tantos foram os choros que, aos poucos, preferiu engolir o pranto. Calada, chorou tanto que num determinado dia percebeu não ter mais porque chorar. Sua alma estava lavada. Saiu para comemorar. Foi parar numa balada da hora e não se sentiu por fora. Dançou, brincou, com alguns até conversou e, no final da noite, se pegou chorando de tanto rir. Choro de felicidade! De alguém que deu a volta por cima e, aos poucos, resgatou a dignidade. Leve, sem nada dizer, pode, finalmente, olhar nos olhos que um dia lhe disseram tanto e ver que hoje não lhe dizem nada. Sorriu, pois sentiu que, na sua vida, esta história era página virada. 

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