PÁLPEBRAS
Reinaldo de Morais Filho

Ele leu em um muro popular o poema comum:

"O poeta enxerga nas pálpebras mais rugosas os olhos belos que lá se escondem."

E andando na rua, outro dia... de olhos vidrados nos glúteos de uma moça qualquer... de rebolado ímpar, é verdade... a ouviu gritar:

-- Tira o olho da minha bunda! Ela é flácida, caída, cheia de celulites. Olhe para o mar!

-- Nem estou olhando a bunda enrugada; e sim a calcinha delicada que marca sua calça quando nos glúteos, maliciosamente, esconde-se.

E achou-se poeta.

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