NO
ESCURO
Márcia Cardador
Cerrou as pálpebras com tanta força que a testa teve que franzir. Não queria abrir os olhos, não queria, não queria. Tudo menos ter que enfrentar a verdade. Tudo menos ter que olhar para a verdade.
Achou que com as pálpebras fechadas, negaria a visão, negaria os fatos. Respirou fundo e relaxou um pouco. Mas não ia abrir os olhos. Nessa escuridão forçada, ficou pensando: e agora? Viro e vou embora? Abro os olhos e finjo que não estou vendo? Saio tateando para o quarto? Fico aqui parada e espero tudo se desintegrar? Só sabia que não queria abrir os olhos.
A razão foi substituindo o choque e ficou se achando meio ridícula, ali de pé no meio da sala de estar, com os olhos fechados e a testa franzida. Além do mais, aquela "franzeção" toda ia precisar de toneladas de creme para sair.
Entre o ridículo e a verdade, não conseguiu resistir, não era mulher de ridículos. Melhor abrir os olhos de uma vez por todas. Agradeceu a escuridão momentânea, mas um minuto tinha sido suficiente. Agora queria luz, luz sobre tudo, ver tudo, olhar tudo.
Suas pálpebras foram se abrindo devagar, conforme sua firmeza aumentava. Quando terminou de abrir os olhos, os fatos ali às claras, não pode deixar de dar um meio-sorriso. Enfim, encarava de frente, de olhos abertos, na luz, o que tinha feito da vida.
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