SONO
Lucio Costi Ribeiro
Levanto as pálpebras lentamente, como quem acorda. O relógio marca 7h30min. Foram 3 horas ininterruptas na cama, mas se passaram 8 horas desde a primeira vez que me deitei. Todo peso do corpo parece estar nas pálpebras.
Tento estabelecer quantas vezes abri os olhos. Lembro que a cada vez o relógio só havia avançado meia hora. Foram dezesseis abrir e fechar de olhos ou dezesseis piscadas ao contrário.
Como o que conta é o tempo que temos para fazer as coisas e não o tempo que levamos para fazê-las, me levanto da cama, vou ao banheiro, ligo o chuveiro para esquentar a água, sento-me no vaso, levanto do vaso, vou até a pia, escovo os dentes, tiro o pijama, tomo banho, faço a barba, seco o rosto e volto ao quarto.
Escolho a roupa. Casaco azul marinho, calça bege, sapato marrom, meias na cor das calças, camisa e gravata azuis. Vacilo. Troco o casaco e a calça por um terno grafite, pego um par de sapatos pretos, esqueço de trocar as meias.
Dirijo mecanicamente, se tivesse de ir a outro lugar antes do trabalho, não chegaria. Quando dei por mim estava estacionando o carro na minha vaga da garagem. Ainda estou disposto, mas mal humorado. O que deveria valer não é nem o tempo que levamos para fazer as coisas, mas o que levamos para dormir, penso, e o tempo que as pessoas nos ocupam deveria ser diretamente proporcional a isso. A manhã passa rápido.
Almoço e minutos depois não lembro o que comi. Volto com meu carro para o trabalho e quase atravesso uma preferencial.
A tarde, as pálpebras estão quentes e os olhos secos. No banheiro, molho os dedos com água fresca e os encosto nos olhos para aliviar. O queixo pesa.
A memória funciona em flashes. imagens aparecem rapidamente, para me atormentar com o que esqueci de fazer.
Fiquei de ligar para alguém. Levanto o fone do gancho. É para ligar na sexta. Hoje é quinta.
Me perguntam se estou com algum problema por causa do meu olhar vago, que nada enxerga. Demoro a responder. Não, demoro para perceber.
Ao final do dia, volto para casa. O silêncio grita desesperado nos meu ouvidos. Noticiário na TV, sanduíche de presunto e queijo quente com orégano e suco de maracujá. Depois leite morno com erva cidreira.
Já é meia noite. Preciso dormir. No quarto, tiro a roupa suada. Vou ao banheiro para um banho morno. Visto o pijama mais roto que encontro, enfim uma sensação de conforto.
Volto para o quarto. Olho para a cama. Fico olhando. Tenho medo de não dormir. Vou tentar pela décima quinta vez.
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