PÁLPEBRAS
Argento
 
Quando nasci minhas pálpebras se abriram pela primeira vez ao mundo, 
chorei e aquela claridade toda penetrou lenta e suavemente em meu ser, 
eram cores sem sentido, luzes perdidas, vultos disformes que se aproximavam. 

Fui crescendo e logo aprendi o sentido da palavra "não", corte profundo 
na criatividade do pequeno bebê que brotava, e que só tentava entender 
essas coisas da vida, os sons, o significado das palavras, vozes que passavam. 

Pálpebras se fecharam pela última vez quando perdi minha vó Inah, 
libertando sua alma pura e bela, deixando-me apenas sua lembrança, 
suas sábias palavras que sempre presentes me ajudaram a crescer. 

Essa sua presença firme, amiga, paciente e que sempre me guiará, 
por essa vida tortuosa e cheia de armadilhas, com fé e com esperança 
num novo mundo, de paz e de amor, num lugar melhor prá se viver. 

Pálpebras novamente se abriram, batendo como o pulsar de um coração, 
quando meus filhos surgiram à minha frente, assustados e cheios vida, 
a espera de um abrigo, chorando e me olhando sem nada entender. 

Passarei todo tempo então tentando lhes transmitir toda minha emoção, 
meus versos, minhas experiências e a dificuldade de cada batalha da lida, 
vitórias, derrotas, sonhos, tristezas e alegrias, o meu viver. 

E quando finalmente chegar a hora do meu suspiro final, 
milhas pálpebras irão se fechar pela última vez para o mundo material, 
e meu espírito voará livre ao encontro de Deus, se assim eu merecer.
 
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