Quando
nasci minhas pálpebras se abriram pela primeira vez ao mundo,
chorei e aquela claridade toda penetrou lenta e suavemente em meu ser, eram cores sem sentido, luzes perdidas, vultos disformes que se aproximavam. Fui crescendo e logo aprendi o sentido da palavra "não", corte profundo na criatividade do pequeno bebê que brotava, e que só tentava entender essas coisas da vida, os sons, o significado das palavras, vozes que passavam. Pálpebras se fecharam pela última vez quando perdi minha vó Inah, libertando sua alma pura e bela, deixando-me apenas sua lembrança, suas sábias palavras que sempre presentes me ajudaram a crescer. Essa sua presença firme, amiga, paciente e que sempre me guiará, por essa vida tortuosa e cheia de armadilhas, com fé e com esperança num novo mundo, de paz e de amor, num lugar melhor prá se viver. Pálpebras novamente se abriram, batendo como o pulsar de um coração, quando meus filhos surgiram à minha frente, assustados e cheios vida, a espera de um abrigo, chorando e me olhando sem nada entender. Passarei todo tempo então tentando lhes transmitir toda minha emoção, meus versos, minhas experiências e a dificuldade de cada batalha da lida, vitórias, derrotas, sonhos, tristezas e alegrias, o meu viver. E quando finalmente chegar a hora do meu suspiro final, milhas pálpebras irão se fechar pela última vez para o mundo material, e meu espírito voará livre ao encontro de Deus, se assim eu merecer. |