PhD EM MATERNIDADE
Míriam Salles
Sabe, doutora, eu sei que a senhora é minha chefe. Sei que a senhora é formada em duas universidades federais e tem MBA e PhD no exterior. Sei que a senhora sabe tudo, tudo mesmo, sobre a administração de uma empresa, matéria na qual sou leiga, e admiro seu conhecimento. Mas sabe o que eu sei também?
Sei que eu estudei muito em casa enquanto trocava as fraldas dos meus meninos para aprender tudo o que sei hoje sobre informática. Sei que varei noites tentando entender sozinha, no meu parco inglês de colégio, tudo aquilo que aparecia na minha frente. Sei que, enquanto isso, educava e criava três meninos pequenos, dando-lhes carinho, amor e atenção, ao mesmo tempo em que comandava e administrava uma casa (o que, diga-se de passagem, faço muito bem) e arrumava tempo para namorar meu marido.
Sei que aprendi a consertar micros enquanto estimulava cada neurônio das pequenas cabecinhas. Sei que aprendi a usar e ensinar a usar todos os programas que se usam atualmente ao mesmo tempo em que ensinava meus filhos a falar e contar. Sei que lia artigos técnicos com um olho enquanto o outro lia estórias infantis.
Enfim, sei que me formei com maestria na maternidade. Sou PhD em prendas domésticas e trago no meu currículo três vidas completas, íntegras e bem estruturadas, prontas para se tornarem e se formarem no que quiserem.
E a senhora doutora? O que traz na sua bagagem? Casou-se? Teve filhos? Esforçou-se para conquistar um lugar entre pessoas que lhe querem tão bem que até morreriam por sua causa? Ou conquistou apenas letras em papéis enquadrados no vidro que dizem que a senhora aprendeu a manipular dados e pessoas?
O que vale mais, doutora? Como pode dizer que é mais do que eu? Como pode agir como se seu diploma lhe desse tanta autoridade sobre mim? Quem lhe disse que ser mãe é ser menos?
Ser doutora é lindo, claro. Mas ser mãe é muito mais que lindo.
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