LÁGRIMAS
NO PARAÍSO
Carlos C. Alberts
A praia da Fazenda. Uma das últimas onde se tem a impressão que o litoral do Brasil não foi destruído. Fim da tarde. Um vento frio, apesar do resto de sol. De bermuda e agasalho, dando uma volta perto de onde o rio da Paciência (está mais para riacho) encontra o mar. Fica ao lado do morro onde a praia termina. A impressão é que a Serra do Mar entra literalmente dentro do Oceano Atlântico, sendo que a pequena ilha próxima nada mais é que a ponta de uma montanha muito mais para dentro da água.
Tanta beleza que chega a doer. Atravesso o riacho. O frio da água doce e rasa me faz ainda mais sensível. Na outra margem, na areia, uma quela (garra) perdida por um siri. “O Caio iria adorar encontrar esta garrinha e levar para a coleção dele”, penso. Abaixo-me para pegar a delicada peça. Tentando fechar os dois terminais, aperto demais e a garra se despedaça. “Não vou poder levar para o Caio”. “Como seria bom que ele estivesse aqui, comigo”. “Claudio também, os dois correndo pela praia e me perguntando sobre a Natureza, como se eu soubesse todos os seus segredos”. Ainda faltam três dias para vê-los de novo. “E se meu pai pudesse estar comigo, olhando seus netos”. Isto eu sei que nunca vai acontecer. Ele nem chegou a ver o Claudio. Lembro da Tereza, minha outra filha, de catorze anos. Que ainda não conheço. Vou tentar mandar um e-mail para ela, quando voltar. Talvez algum dia ela me perdoe, me acompanhe até esta praia e veja seus irmãos correndo felizes.
Olhando a garra despedaçada na palma da mão, não posso me conter e choro. Choro muito. Choro pelos meus filhos que estão longe. Pela filha que não conheço. Por meu pai que morreu há quase cinco anos. Choro porque não há mais praias como esta no Estado de São Paulo. Choro porque sei que até mesmo este lugar não vai resistir e será destruído. Choro pelo fim do Paraíso.
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