A
SONOLENTA DO TIETÊ
Adilson Sobrinho
Já não sinto mais medo de São Paulo. Desde muito pequeno me apavorava com a idéia de estar perdido entre aqueles enormes arranha-céus.
Cidade louca né, o dobro de carros e avenidas que qualquer outra do Brasil, metrôs passando em desesperos tresloucados pelos nossos olhos, homens de terno sempre apressados, não se via calma naquele mundo veloz.
A minha imagem sempre foi televisiva e depreciativa, e tive medo, sempre evitando estar lá na paulicéia desvairada.
Mas o destino não me poupou de ver e enfrentar de perto o meu pavor.
Em uma viagem noturna em ônibus pouco confortável fui chegando perto do meu grande recalque, estava indo sim ao encontro de Lu, o meu grande e eterno amor. O motivo era nobre e justo, mas o medo era constante em todo o decorrer de uma viagem com roncos que não eram os meus, os vizinhos pareciam não estar indo pra guilhotina como eu assim me sentia.
A manhã se aproximou e adentramos a capital, tudo me pareceu muito calmo para a grande metrópole, pensei em Lu, me acalmei, desejei, já na rodoviária um bom descanso ao nosso motorista e pisei pela primeira vez no solo bandeirante por natureza.
Não vi garoa, e embolado em uma confusão de ombros, procurava por ela, lugar marcado tínhamos mas o destino novamente me fez vê-la como uma fada, subindo lentamente ao ritmo da escada rolante de encontro ao que seria o nosso primeiro e fatal contato.
Nos conhecíamos pelas vozes ao telefone ou contatos internéticos, e algumas fotos é claro.
Como em ascensão ela veio chegando, não me viu em um primeiro instante, caminhei alguns passos ao seu lado, e à sua primeira percepção lhe acordei da inércia com um simples e tímido bom dia.
Ela me fez abraçar, em seus tantos centímetros a mais que eu, me envolveu gostosamente como um grande afago.
Nos falamos nervosamente e procuramos um café, afinal merecíamos.
A amei desde aquele instante, naquele minuto amei, amei São Paulo, seus ritmos apressados me soavam como música, sua imagem apavorante até então, fez-se quadro, não vi São Paulo, não vi os mesmos homens de ternos que me aterrorizavam, sei que passaram por mim, não vi a Sé, a Lapa, a Mooca, o Bexiga, Jabaquara...
Meus olhos não viam, eles sonhavam frente à imagem sonolenta e linda de Lu no Terminal Tietê. Inevitavelmente nos beijamos e, de olhos fechados, com meus lábios colados ao dela, vi São Paulo com o coração, vi que a felicidade não escolhe lugar, ela não marca encontros, a felicidade vem de escada rolante ou elevador ao nosso encontro e as vezes tem nome; Lu é o nome da minha.
Hoje vejo São Paulo ao fundo, no primeiro plano vejo o meu amor.
O filme da velha máquina não deixa dúvidas............. A cidade é belíssima, muito mais do que linda !
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