O SONHO DEIXADO NA CARTA...*
Yoshie

Uma mulher com os cabelos longos, o jeito delicado de andar e os olhos vagando no além chamam a atenção de Nill. Todas as vezes que a via passar caminhando em direção ao pavilhão onde teria de dar mais uma aula o deixavam a se perguntar se ela já tinha alguém, quantos anos teria na realidade, parecia tão forte mas ao mesmo tempo tão delicada, pelo seu jeito de sorrir. 

Ao chegar no pavilhão, Emily já se sente cansada, mas sabe que seus alunos também estão esgotados com o ritmo de trabalho intenso, e então se reanima, prepara o material, pois como sempre havia chegado vinte minutos antes do horário. 

De repente dá uma parada, senta-se, olha em volta, e se vê sozinha. Fica contemplando aquelas quatro paredes, as cadeiras , a mesa grande, e começa a distribuir folhas de exercícios antes que os alunos cheguem , como que preparando uma mesa de jantar para sua família. Essa, que se resumia agora nela e Leonardo, seu filho. 

Os alunos chegam, ela fica feliz por não se encontrar mais divagando nos seus próprios questionamentos, e coloca em prática seu dom de oratória e comunicação. Lecionar era uma terapia. Saía da sala de aula sentindo-se outra pessoa. Quando menos espera já é hora de partir. Despede-se de seus alunos e vai em direção ao estacionamento. Repara que há muitas pessoas na saída, conversando, mas seu jeito meio reservado a impede de observar com mais detalhes. Somente um lhe chamara a atenção, mas era tanta gente naquele lugar.....

Não sente vontade de ir direto pra casa. Vai para o lugar onde sempre costumava ir para sentir o vento da tarde, ou se maravilhar com o por do sol, cada dia com cores e presentes diferentes. Um soneto em cada melodia que o vento cantava no balançar das folhas, algumas pessoas de mãos dadas caminhando, outras em grupos tocando violão e rindo de alguma piada. 

Como já escureceu, o local já está vazio, somente alguns transeuntes....e fica em silêncio, de repente as lágrimas começam a cair. Pega seu caderno e começa a escrever o que sente, como que pedindo em esperança, o que lá no fundo seu coração havia prometido. Que ainda haveria de encontrar alguém que pudesse cultivar um amor companheiro. Escreveu tudo em forma de poema. Deixara somente seu nome de escritora. Enrolara o papel e deixara sob uma árvore onde ficara recostada.

Levanta-se e parte para casa, seu filho a espera com um monte de estórias. Quem sabe não dá tempo de sair com ele e levar sua afilhada também.

Um homem com traje militar passa pelo local e vê o que acontece mas não consegue enxergar direito a pessoa. Fica curioso, e como vê o carro partir rapidamente, decide olhar o que está escrito. Acha muito lindo... Que coisa, ela parecia tão bonita...

Alguns meses se passam, já é tempo de Natal. Todo mundo correndo para comprar presentes. Eliane liga para Emily convidando-a para sair com um grupo de alunos. Ela aceita, meio com receio, mas de que? De largar a casa sozinha e ter de deixar seu filho com seus pais? De se defrontar novamente com o mundo lá fora , depois de mais de dois anos e alguns namoros que não deram certo? Começou a se arrumar, escovou os cabelos, fez uma maquiagem suave, borrifou um perfume não muito forte , tirou o carro da garagem e foi para a casa de Eliane. 

Quando chegam ao local, os alunos já estavam lá e tinham levado alguns amigos também. No começo fica apenas observando a conversa, depois que foi apresentada a algumas pessoas e outras que se auto introduziram, pois também não faziam parte do grupo. Uma delas não era estranho. Sim, era a pessoa de farda que costumava ver quando saía do pavilhão onde lecionava.

Começam a conversar e sem perceber estava sorrindo e falante. Nill fizera-lhe algumas perguntas sobre sua vida, e Emily disse o que sentia a respeito, não tinha medo agora de dizer que se sentia meio sozinha. 

Ficam um bom tempo trocando palavras e vê que têm os mesmos gostos, à primeira vista é muito agradável, poder se imaginar com alguém como ele do lado dela no futuro. Será que seria sonhar demais? Não.... Ele pede seu telefone, e no dia seguinte liga para ela. Marcam para se encontrar num sábado no parque. Emily segue em direção ao parque e encontra Nill esperando-a. De repente já estão caminhando de mãos dadas e um beijo acontece. 

Enquanto caminham pelos bosques Emily nota que uma garota está escrevendo algo num pedaço de papel, fica observando por um tempo. Quando volta ela ainda está lá, mas em pé, isso lhe recorda algo. A garota repete a mesma coisa que havia feito algum tempo atrás. Mas colocara o pedaço de papel num envelope e deixara sob a árvore, à mercê da chuva ou de alguém que poderia lê-lo. 

As palavras que deixara no poema em forma de esperança, estavam acontecendo de certa forma desta vez. Pergunta-se também se alguém poderia ter lido suas palavras. Como seria essa pessoa. Que bobeira.... Isso é coisa de outro mundo. Sorri para Nill e continuam a falar de seus sonhos. O presente momento é muito gratificante agora.... Não quer pensar no futuro, mas sabe que ainda é possível sonhar. O encanto voltou novamente aos seus olhos...

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