BADJA
ZEIMÃO
Nerino de Campos
A mãe chegou até a porta do quarto, pegou no trinco e, vacilante, pensou se mandaria ou não o filho abaixar o som.
Na verdade, ela tinha medo dele.
O barulho era infernal e ela, após criar coragem, entrou, encontrando o filho deitado, de olhos fechados, acompanhando com gestos bruscos em uma guitarra inexistente, o som que inundava toda a casa.
- QUER LANCHAR AGORA?
- NAAAÃO!.. - respondeu o filho sem abrir os olhos.
A mãe saiu do quarto, e na sala encontrou o pai que acabara de chegar. Eles nunca conversavam, por isso haviam desenvolvido, com destreza a arte da comunicação por sinais, e ela, com um simples contorcionismo facial, comunicou a necessidade de fazer o filho desligar aquele maldito som.
O pai tirou a gravata, colocou o embrulho de pão sobre a mesa e, furioso, foi para o quarto. Entrou rapidamente sem dizer nada. Desligou o som e diante do filho assustado na cama, gritou:
- O que otira o grapodura de ortuma?
- Incobi dá - respondeu o filho meio tímido.
- BADJA ZEIMÃO!!! - berrou o pai.
- Querive unofi pagul do cartilo pro beluto?
- UBIÊ???
- Querive unofi pagul do cartilo pro beluto?
- Opaco martido bertol do papol de salrei com totijo norei.
- Baka! - gritou o filho se levantando.
- Sareto de vatulo que se targou du bobile.
- Talide no bili sem pagorar de fole?
- Sabi.
- Então beda no trajulido opiledo que o tukido vai catar.
- É viduro mico que belo peloquido no cotuso.
- BAVA! BAVA! BAVA! - gritou o filho pegando a calça no chão e saindo do quarto.
O pai foi atrás resmungando, porém ele, decidido, abriu a porta da rua e saiu de cueca, arrastando a calça que ia despejando objetos inúteis sobre calçada.
A mãe ainda correu até a porta gritando:
- Filhinho, filhinho...
Quando voltou, o pai já estava jantando. Ela sentou-se à mesa, pegou um pedaço de pão, e enquanto comia, pensava conformada no relacionamento dos dois: afinal de contas, eles ainda falavam a mesma língua..
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