BRINCAR TEXTOS
Maurício Cintrão

Somos todos meninos a brincar de escrever. Alguns são mais velhos e outros meninos mesmo. Homens e mulheres que brincam com letras. Jogamos Amarelinha pulando parágrafos. É lançar a idéia e sair saltando de frase em frase até resgatá-la para lançar novamente. É a turma da rua brincando na calçada da Internet. 

"Vai estudar, menino!"

Vou nada, quero mais é me divertir. E brinco de guerra, brinco de caubói. Brinco de boneca, brinco de estátua. Brinco de ser brinquedo a brincadeira de escrever. Mas não é brincadeira a produção dessa gente. Autores que se dedicam, mergulham e saem nadando. Às vezes não sai nada, mas quase sempre sai bom texto. Porque é gente encantada na magia das palavras. 

Pode parecer estranho mas é dolorido o encantamento. A gangorra dos raciocínios derruba com freqüência crianças e brinquedos que escrevem. O lúdico é lúbrico. Escorregamos aqui e ali mas não desistimos de brincar. A grande brincadeira é cair e recomeçar. Continuar reinventando o mundo, apesar dos tombos, dos choros e da sensação do "não consigo". 

Tudo é possível quando se escreve brincando. Mesmo que a brincadeira às vezes seja sem graça. Continuamos na roda porque é essa a brincadeira. Divertir o espírito e engordar a esperança. A vontade de escrever é politicamente incorreta. Para vencer a solidão do desejo de ser autores só mesmo sendo gordinhos de projetos para o futuro. 

Brincamos de conversar com alguém, mesmo que alguém não exista. Na verdade, brincamos de pega-pega com leitores que ainda vamos ter. Brincamos de esconde-esconde. Neste momento, por exemplo, você é parte do brinquedo. 

"Um, dois, três, acusando o leitor escondido atrás da página!" 

Não somos brincantes, mesmo que nos achem folclóricos. Somos brincadores e brincalhonas. Às vezes, somos brinquinheiros. Fabricamos brinquedos para nossas crianças internas. De quebra, você pega carona e aproveita momentos no balanço deste brincar. 

Sempre brincamos, sempre. Porque nasce da brincadeira essa chama potente que esquenta a vida. Brincamos com palavras que inventamos, até quando as palavras não foram inventadas. Mesmo quando alguém fala: "você não inventou, essa palavra já existe". Ninguém liga, nem desiste. O combinado é continuar brincando como se fosse de verdade essa vida de brincadeiras. Somos apenas crianças brincando com estas letras. Somos apenas autores esperando o momento.

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