SER E SIMPLESMENTE...
Marina Salles

Estou escrevendo isso aqui por uma série de motivos.

O primeiro deles se limita à não-existência, não-ênsia, não-essência, havência, haver, realidade, verdade, não absoluta, aliás, não absolutamente não-absoluta. Como é bom poder colocar tantas palavras simplesmente em fila...Voltando ao não-ser. Nem é algo negativo, apenas não há, não é, não está lá para ser/estar/haver ou o que seja. Situa-se nos dois extremos - e em todo o espaço entre eles - da absolutidade. Halidade. Haver, realidade (as palavras me faltam, e como faltam...).

O segundo motivo é apenasmente a estranha falta do quê fazer quando tanto há à disposição.

O terceiro se define pela aparente ridicularidade, obviedade, complexidade ou profundidade do assunto. E o assunto é, mais que simplesmente, ser. Ou não.

A idéia que me veio à cabeça começou com uma discussão. Minha mãe falando sobre a verdade. A absolutidão da verdade. Não; a não-absolut... (quão grande é nossa língua?)... a inexistência da verdade absoluta. E minha irmã nos dizendo que havia uma - apenas uma - verdade obsoluta. Ser.

Tudo é. A partir do momento em que é, é. Quando é mencionado, visto, inventado, pensado, formulado, rejeitado, destruído, recomposto, percebido, falado, descriado, é. Parece óbvio. Mas e o que nem passa por nossas cabeças, o que ninguém percebe, não é? Minha irmã, parece-me, acredita fortemente que haja algo além da nossa percepção - e eu suponho que tudo o que há, é. Talvez. Sou da opinião que, se nós não percebermos, não tem muita importância. Não quero dizer que não se deve procurar. Percebam que usei o termo percebeRmos. Em todos os tempos: passado, presente ou futuro. E no caso estou incluindo perceber também qualquer conseqüência. Para que se preocupar com a existência (não, ência fica melhor) de algo que não vai fazer qualquer diferença para qualquer um (e, se fizer diferença para alguém, fará para mim)? Ah, esqueçam; não sei nem por que estou defendendo (estou?) essas idéias - nem sei se acredito de fato em qualquer uma delas. Vamos em frente.

Depois da discussão - que não nos levou muito mais adiante do que estávamos - passaram-se as horas em paz (ou algo assim). Íamos para Campinas, visitar um amigo. O tempo passou, melhor utilizado que em um carro, eu acho. Entre churrasco, PepsiTwist, conversas e futebol na garagem, assistimos um filme, sobre cheerleaders, líderes de torcida, ginastas dançarinas. Ao fim do filme, minha irmã comentou que gostaria de fazer algo assim, ter aquele controle do corpo. Minha mãe respondeu que as meninas que faziam aquilo treinavam duas ou três horas por dia. Eu apenas pensei que o importante é fazer alguma coisa, se você não faz nada, você não é nada. Não tenho idéia de como cheguei a essa conclusão. Mas fez mais sentido.

Alguns dirão talvez que há uma falha nesse raciocínio. Pensem nas pedras. Muitos dirão que elas não fazem nada, mas obviamente existem. Eu discordo. Não vou contestar a existência das pedras. Acredito fortemente que elas existam (e quem discordar, espero que seja muito bom argumentador). Mas digo ainda que elas fazem alguma coisa. Aliás, o que elas fazem é algo que não posso afirmar com certeza que qualquer um faça tanto assim. Eu diria que a atividade das pedras, nobre atividade que lhes rouba todo o seu precioso tempo, é, simplesmente, permanecer. Pedras permanecem - essa é sua função. E o fazem melhor que qualquer um que eu conheça, permanecendo por muito (e cada vez menos) tempo, até que chegue a hora de elas não mais permanecerem e não mais serem. Não mais serem pedras.

Se alguém quiser discutir, posso ainda argumentar que pedras pedram. Eu não sei quanto a você, mas eu euzo, muito, o tempo inteiro. Gosto de euzar, realmente. Mas acho que coisas-além-de-nossa-percepção não irão coisas-além-de-nossa-percepcionar. Parece-me absurdamente ridículo e ridiculamente absurdo. Até porque nesse caso nós as estamos percebendo, elas existindo ou não. A partir daí elas já fazem algo: nos afetam. E portanto são. Pode parecer ridículo dizer que o que não me afeta não é. Não precisa ser diretamente. Isso não é uma verdade absoluta! Apenas não vão fazer a menor diferença para mim, para quê eu deveria saber se elas são ou não?

Eu deveria parar de discutir assuntos sem nexo...de qualquer modo, que diferença vai fazer para a minha vida se eu souber que existe verdade-absoluta ou coisas-além-da-nossa-percepção (em definitivo), ou o quê mais? Aliás... No final, acho que deveria estar feliz, sorrir e simplesmente Ser.

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