SEM PALAVRAS
Márcia Cardador

Não sei se você percebeu, mas depois que você falou que ia embora e olhou para mim, esperando alguma coisa, não consegui dizer mais nada. Fiquei procurando uma palavra que evitasse o bater da porta. Mas não encontrei.

Fechei os olhos e quis chorar, mas a quase-palavra ficou entalada na garganta e começou a me sufocar. Ainda tentei chamar o seu nome, mas a porta estava fechada. Corri para a janela, na esperança de ver você passar, saindo do prédio. Mas antes disso, engoli o sufoco e a quase-palavra se desmanchou em minhas lágrimas. Eu ali, sentada, não conseguia pensar em mais nada a não ser em você. Foi me dando um desespero, um desespero doido.

Olha como são as coisas... Parte de mim queria que eu corresse atrás de você, outra parte, lá no fundo, ainda estava procurando essa palavra mágica. Não consegui conciliar as duas coisas, fiquei por ali mesmo. E quanto mais eu tentava, mais a palavra me escapava. Quis pronunciá-la, mas os soluços imprimiam um ritmo todo próprio, a palavra saía feito um gaguejar. Terminei uma, mas não era essa e comecei de novo. Falei e falei, palavras e palavras, e iam saindo assim como novas, do fundo da alma, carregadas de dor. E quando não lembrei de mais nenhuma, comecei a inventar. Falei e falei. Mas nenhuma era a que eu procurava. O desespero passou junto com o soluço, mas ainda não consigo acreditar: você foi embora e não existem mais palavras.

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