CARLITOS E OUTRAS
PALAVRAS
Lula Moura
Carlitos bailava aquela bengala, tropeçando, surpreendendo, arrancando risos e provocando reflexões acerca da vida. Divina vida, divina arte. E, quem imita quem?... Não me atrevo responder. Triste, mas alegre, leve, louca, solta e linda aquela personagem do eterno Charles Chaplin. A obra do gênio é prova irrefutável de que a palavra, embora maravilhosa, é mero coadjuvante. E talvez nem precisasse ser inventada.
Impedida de ser usada no cinema por carência técnica, que somente anos mais tarde seria superada, sua ausência não foi muito sentida, embora notada.
Pretensiosa, por vezes, a palavra tenta dar forma a um sentimento ou idéia. Mas não é fácil. Pensemos nos filmes de Chaplin, no Carlitos, que citei no primeiro parágrafo. Quem não viu, ou não conhece, deveria fazê-lo urgentemente. Suas mímicas e expressões desafiam a maior das criatividades dos inventores de palavras, com aquele humor maravilhoso. Definir, em algumas letras, aquela imensidão é duro. É querer limitar o ilimitável. Difícil mesmo.
Chaplin temia que o uso da palavra golpeasse de morte a imaginação. Dá pra entender...
Mas deixe-me defender minha matéria-prima, a palavra, já que eu não sei fazer mímica e muito menos sou Carlitos, quem dera. Chaplin não temia a palavra em si. Temia seu uso indevido. Temia pelos clichês, pelas coisas prontas, pelas receitas de bolo. Ele defendia a liberdade criativa. Sabia que a palavra, no fundo, é uma incompreendida. E deveria ser vista como uma obra de arte, assim como uma pintura. Desrespeitando-a, o homem acabou por sugerir regras, propor disciplinas exageradas e impor respeito. Nos ameaçando com “falhas” no comunicar. Mas o protocolo desta comunicação tem em cada ponta os filtros pessoais, constituídos de crenças e valores adquiridos nesta e em outras vidas, fazendo com que os limites impostos pelos dicionários sejam ultrapassados.
Outras palavras precisam ser criadas, dinamicamente, a cada movimento, a cada mímica, a cada riso, a cada Carlitos. E as prontas, recriadas.
Essa falsa retórica não pretende inventar palavras, ainda. Somente convidar ao silêncio. E aqui, no interlúdio da peça maior, tua vida, amigo leitor, invocar a beleza de uma delas: RIBALTA. Sugerindo sentir, a partir desta, a luz do gênio do cinema mudo. Charles Chaplin, gênio da Arte. Não encontrei outras palavras.
Carlitos, um vagabundo. Eu queria ser os dois. E você?
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