DETONANDO O FUTURO
Juraci

Fazia hora que a menina não levantava o bumbum da cadeira frente o computador.

Estranho o interesse pela opção de isolamento.

Aproximei-me em silêncio e percebi que se falavam em códigos. Eram tantas palavras inventadas que precisei realmente de um tradutor. A força desses códigos se compara com bombas destruidoras, usadas nas guerras. Detonam com uma precisão assustadora. Aqui no caso, detonam a nossa língua portuguesa. Sem direito a defesa. As abreviações são tão impossíveis que perdem até a direção de se falar uma língua tanto a nossa como qualquer outra do mundo. Os vocábulos usados nos chats manifestam que o ensino nas escolas não são usados na prática. Para confirmação do que digo, alguns exemplos: a palavra "não" é naum, a "cacete" é kct e "também" é tb. A acentuação foi abolida e a cedilha digerida com hambúrguer.

Outro dia, ela chegou em casa repetindo um programa de TV, que havia passado pela manhã:

- Como você assistiu este programa se era no horário de sua aula? - perguntei

- Não mãe, foi dentro da sala.

- Tem TV dentro da sala de aula!?

- Não, mas, Junior leva uma miniatura de televisão e liga debaixo da carteira. Quem está por perto, assiste numa boa.

- E as aulas de português, física, matemática, para onde vão?

- Ainda somos jovens mãe; temos muito tempo para se estudar. Podemos perder, detonar alguns.

- Sim, são jovens que detonam também o dinheiro dos pais, em elevadas mensalidades, muitas vezes sem o devido proveito pelo estudante.

- Preocupa não mãe. É o gosto pela aventura, dar asas à loucura e nada de vida futura prematura. Quando chegar esse futuro pensaremos nele.

- Há sempre um futuro filha, que se torna presente. Se esse presente não for buscado ainda no futuro, pode se dar com os burros n'água. O futuro é mistério que enfeitiça sonhos também, de menina-moça.

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