FANTASIAS DA VIDA...*

Yoshie Furukawa

Quando pequena eu costumava passar algumas férias na casa de minha avó materna. Engraçado, nunca me contavam estórias mirabolantes, dessas de deixar qualquer um assombrado. Mas me lembro de um quadro na parede que me assustava, da minha bisavó falecida. E mais tarde, na fazenda de minha madrinha , pela primeira vez ouvi falar num bicho estranho que costumava sugar sangue. Comecei a ouvir estórias de pessoas que morriam e se transformavam em seres para normais, que tinham o dom de transformar outras em vampiros. Passei a ter medo da noite, tinha até arrepios de ir ao banheiro sozinha. 

O tempo passou e hoje se me deparasse com um de cara, com certeza esse medo voltaria. Hoje me divirto de ver as crianças querendo uma fantasia de batman, brincando com um carro imaginário, com super poderes. Bem ou mal, acho que todos queremos um ser capaz de voar em nossas imaginações, aquela ânsia de sair da mesmice, de não ficar estagnado no tempo. Temos uma necessidade imensa de preencher nossos mundos com tudo que é possível, somos curiosos e medrosos.

Me recordo da época do colégio, quando estudei no magistério e tínhamos que fazer apresentações para a escola. Numa delas, nosso grupo ganhou. Fizemos uma coreografia e cenografia muito bonita e ao mesmo tempo com uma onda de mistério. Tivemos que ir a um salão de cabeleireiro para que ele nos deixasse com cara de fantasmas, encher nossos cabelos de purpurina e dar aquele volume horripilante que até hoje não me esqueço.

Hoje meu filho vem correndo de madrugada assustado com alguma fantasia, resultado de algo que assistiu na televisão ou ouviu em algum lugar, e sempre digo que nosso mundo antes de mais nada foi criado com amor. Morcegos, seres alienígenas, .... Sempre teremos medo de algo. E sempre teremos de suprir nossos medos e incertezas com coragem e amor.

Hoje se tivesse que posar de novo na casa dos meus avós, eu não teria mais medo do quadro na parede que tanto me assustava, pois agora entendo que meu medo não tinha fundamento. Mas se tivesse de voltar para a fazenda da minha madrinha e pensar que teria de morar lá sozinha, eu com certeza me negaria a subir aquela escadaria antiga. Acho que ainda existe um certo morcego rondando no ar e preciso buscar em mim ou deixar pra lá. Afinal de contas, temos de viver o dia a dia. Temos que resolver os problemas cotidianos e não deixar que coisas sem nexo tomem conta de nossa imaginação . Temos de deixar que nossas mentes voltadas ao amor que cura. Acho que é essa a realidade...

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