PARA RIR DOS QUARENTÕES
Maurício Cintrão

Meu filho João Paulo começa a falar de sexo na escola. E não se trata de trocar figurinhas com os colegas. O assunto foi provocado pela própria professora. É um esforço para inserir educação sexual no contexto do aprendizado escolar. Isso é muito legal, apesar de ainda me sentir pouco confortável com a naturalidade com que se fala do tema.

Pois ele apareceu outro dia com um questionário impresso para fazer uma entrevista comigo. Logo de cara perguntou quais eram as minhas dúvidas em relação a sexo quando eu tinha 11 anos de idade, como ele. Veja bem, sou antigo. E na minha época, com essa idade, a gente se perguntava sobre como beijar, o que fazer quando se namorava, como agradar a menina, como fazer carinhos nos cabelos.

Acho que não convenci o João com minhas respostas. Afinal, ele faz parte de uma geração que fala de pênis e vagina sem vergonha nenhuma. Aprendem isso e muito mais quando estudam reprodução humana. Essa pessoazinhas convivem naturalmente com a idéia do uso de preservativos. São da época deles as mensagens de sexo seguro veiculadas pela TV. Isso sem contar que a novela das oito mostra os casais de mocinhos em amassos descomunais (que coisa antiga chamar a isso de amasso!). 

Deve ser difícil, portanto, acreditar que minhas dúvidas sobre sexo, na infância, fossem tão bobinhas assim. Mas eram, o que é que eu posso fazer? Se eu disser que só fui descobrir a utilidade do bidê outro dia, você vai rir. Isso se souber o que é um bidê. Pois eu sou de uma geração que aprendeu a ler com Pato Donald e sua turma, personagens que não formavam casais e, por suposição, não faziam sexo. Só havia sobrinhos, lembra?

Sexo foi um tema proibido nas famílias de meninos e meninas de minha geração, salvo raríssimas exceções. Por conta disso, muita gente sofreu com o folclore. Ainda hoje há quem tema, de fato, que a masturbação faça surgir pêlos na palma da mão ou provoque crescimento dos mamilos. Não são raros os casos de maridos que não se despem na frente das esposas (devem ser adeptos do amor no escurinho).

Por isso, acho muito positiva a iniciativa da escola. Até porque, abre as portas para que sexo seja assunto de discussão em momentos apropriados. Com o irmão mais velho do João, o Gabriel, que hoje está com 21 anos, eu rebolei um bocado. Ele pertence a uma geração que iniciou esse processo de educação sexual na escola. Molecada que não teve a gentileza de preparar os pais com questionários e foi logo ao assunto, provocando toda a sorte de constrangimentos.

Lembro de um desses episódios. Ele tinha lá os seus seis ou sete anos. Eu, como sempre, buscando posar de moderninho. Afinal, aprendi que é preciso manter um diálogo franco e aberto com os filhos. Ninguém explicou, porém, que isso é uma faca de dois gumes. Diálogo franco pressupõe perguntas embaraçosas. Foi no meio de um daqueles vazios de conversa que acontecem quando se está andando de carro que o Biéu virou para mim e perguntou, na lata: "Pai, o que é bater punheta?". E eu quase bati o carro.

Portanto, bem-vinda seja a educação sexual com seus questionários e sua franqueza, pois a humanidade precisa de informação para ser mais feliz. Só espero que os professores sejam generosos ao ler as respostas de pais travados como eu. E expliquem aos alunos que é verdade mesmo. Já houve época em que a grande incógnita sexual dos meninos era saber de coisas prosaicas como beijar, namorar e acariciar os cabelos das meninas.

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