FACA
DE QUATRO GUMES
Marta Rolim
Há uma piada que conta assim: um pai tinha dois filhos, um era pessimista e o outro otimista. Chegando o Natal, o pai resolveu dar presentes diferentes aos filhos. Ao pessimista presenteou com um bonito cavalo e ao otimista com uma sacola cheia de fezes fedorentas do animal. O pessimista, ao receber o cavalo da mão do pai, que segurava as rédeas, prontamente se pôs a examiná-lo e logo exclamou com amargura: "Este animal é muito grande e forte, vai me morder e machucar. Quando eu montar nele, certamente hei de cair e o tombo será grande!". Entrementes, o filho otimista abriu a sacola, que era seu presente de Natal, e viu o monte de bosta. Logo exclamou todo feliz: "Ah! O meu cavalo deve estar passeando no campo! Vou agora mesmo procurá-lo!" E saiu porta afora, cheio de esperança.
Agora vamos fazer uma brincadeira em cima da história-piada. Chama-se "E se a história continuasse?".
Teria o menino pessimista, com seu excessivo temor, evitado um terrível acidente?
Teria o jovem otimista, se precipitando campo afora, se aproximado demais de um cavalo xucro?
Teria o menino pessimista deixado de desfrutar um magnífico passeio com seu belo cavalo?
Teria o jovem otimista encontrado um bom cavalo no campo e justificado sua fé na "M"?
Teria o menino pessimista ensinado ao seu jovem irmão a não a ver as coisas de um ângulo só?
Teria o jovem otimista ensinado ao seu irmão a não ver as coisas de um ângulo só?
Haveria momentos em que é otimista ser pessimista e momentos em que é pessimista ser otimista?
Haveria momentos em que é simplesmente otimista ser otimista e momentos em que é pessimista ser pessimista?
Vou dizer uma coisa: as facas nunca tiveram dois gumes. Nós é que, muitas e muitas vezes, só pudemos enxergar dois. Assim como a piada (muito boa por sinal), que a princípio se mostra singela, quase tão correta como um bom alicate, há muitos outros gumes a serem vislumbrados, e nem sempre eles cortam do lado que você espera.
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