FESTA
DE DEBUTANTE
Luciana Pareja Norbiato
Pois não é que ali se apresentavam as duas mais formosas damas do salão, olhos faiscantes e peito arfando a juventude das debutantes, ambas olhando para mim? Outrora, tal fato seria motivo de orgulho e gabolice para com meus amigos de colégio, mas não agora. Porque eu estou sinceramente apaixonado por Beatriz, a morena de olhos negros como não seria o universo em sua ausência de luz. Mas quem comenta sobre mim com aquela que eu amo é Lucélia, a loirinha faceira, mas clarinha demais para meu gosto tropical. São tão amigas que, se abrisse o diário de uma, é como se estivesse lendo também o da outra, sabem tudo da vida da amiga e são fidelíssimas em sua amizade canina.
E eu? O que posso fazer? Lucélia me fita insistentemente, fazendo beicinho e charme, enquanto o objeto de meu amor lhe dá conselhos e, vez por outra, espiadelas em minha direção como para certificar-se de que sou um bom partido para sua melhor amiga, de que sou um bom rapaz. Mas e quanto a Beatriz? É por ela que meu coração suspira, que meu peito retumba, ou vice-versa.
Cochicham entre si. Gostaria de ser uma mosquinha para adivinhar-lhes as palavras. São tão amigas que, aniversariando em dias próximos, comemoram juntas a data, todos os anos. Quinze anos hoje, eis que elas me olham de longe no salão de baile decorado com camélias. Então, que devo fazer? Declarar meu amor àquela que realmente o possui, e correr o risco de magoar a ambas, ou torcer para que seja apenas fruto de minha imaginação a paixão de Lucélia por mim?
Mas eis que se aproximam. Meu coração perde o ritmo e a compostura, começa a tamborilar como se fraquejasse para, no instante seguinte, explodir em toques pesados e céleres, iminência de infarto (como se eu, nos meus dezessete anos, pudesse ter um infarto). Desconfortável no salão como no "smoking" que fora de vovô e, portanto, um tanto fora de moda, aguardo a chegada das amigas. Que param diante de mim. E se riem.
- Adivinhe, Pedro: uma de nós quer você - diz Beatriz, atiradíssima.
- Mas só será sua se... se você adi... adivinhar qual - completou Lucélia, mal vencendo a timidez.
E agora? Minto? Engano-me e garanto meu par? Cortejo aquela que não desejo para traçar algum plano de conquista ou mesmo não ficar de mãos abanando? Ou corro o risco de ser sincero e pôr tudo a perder?
Elas sorriem, Lucélia nervosa, Beatriz incisiva, e nesse momento tudo o que eu quero no mundo é desvanecer-me, enquanto todos os demais garotos do baile me observam, cheios de ignorante inveja.
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.