CONTRIBUINDO PARA A SEGURANÇA
Eraldo da Silva

João Capiau voltava do trabalho carregando em seu bolso o sustento da família: era dia de pagamento.

Vinha alegre, durante o mês fez muitas horas-extras porque as vendas de sua empresa aumentaram e, o salário estava um pouco maior que de costume. Trabalhava há 9 meses numa fábrica de armas de fogo desde que veio do interior de Minas Gerais para Santo André do ABC paulista tentar melhorar de vida; operava uma máquina operatriz que soltava cavacos de metais, seu serviço era apenas colocar o material e tirá-lo já usinado. "coisa interessante" pensava.

Capiau era um tipo divertido para os amigos, seu sotaque interiorano dava mais graça no seus "causos", adorava contá-los; para cada situação que lhe era colocada tinha um similar vivido por alguém que conhecera lá na sua cidade natal, por isto era muito popular entre os amigos do trabalho.

Às vezes na fábrica ficava contemplando as pistolas que eram produzidas; com cobiça em possuir uma, morava em uma favela perigosa e precisava de segurança, e era para isto que elas existiam, como dizia seu patrão.

Em casa sua esposa e quatro filhos o aguardavam como todos os dias, ele desceu no ponto final do ônibus e teria que fazer uma longa caminhada até seu lar; sempre com medo, sempre desconfiado.

Dois rapazes aparentando não mais que dezesseis anos o abordaram:

- Passa a carteira tio!

E apontavam um revólver que ele reconheceu como sendo fabricado pela empresa que trabalhava. 

Capiau tentou resistir pois não podia ceder o pouco que ganhara para alimentar os filhos: levou dois tiros no peito.

No outro dia de manhã seu patrão comunicou aos companheiros de trabalho sua morte e lamentou a perda, dizendo que cada vez mais a população precisava armar-se para conter a violência. Enquanto seus funcionários continuavam na labuta, ele guardou um dia de luto voltando para casa em seu carro blindado acompanhado de dois seguranças.

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