REDE
NA VARANDA
Reinaldo de Morais Filho
Quando o dia atirou os raios de sol como laços firmes em torno do meu pescoço, ainda andava lentamente entre as alamedas negras dos sonhos eróticos.
Acordei após uma respiração profunda, resmungando palavras daninhas, molhadas da baba escorregadia que contornava meus lábios.
Já estava atrasado para o trabalho. Não canso de repetir: a vida é longa, mas os dias são assaz curtos.
Corri para o chuveiro, acionei o dispositivo para esquentar a água e viajei pelas veredas do reflexo que meu corpo traçava no box. "O que fazer com aquela gordura localizada e insistente que se acumulou na cintura?"
Lembrei do sonho erótico que estava desenhando antes de ser interrompido pela luz insistente da manhã. Mas os sonhos se perdem com o despertar, com a visão broxante dos excessos corpóreos; nem lembro quem estava ao meu lado na rede que pendurei na varanda.
Nada mais afrodisíaco que transar em uma rede na varanda.
Amendoim. Ovo de codorna. Catuaba. Viagra. Certa vez juntei tudo em um liquidificador e empurrei o vaso para dentro do meu estômago. E a noite continuou tranqüila, sem que nenhuma artéria maldita do meu corpo se empolgasse a mandar sangue para onde a 'moça nua' em minha frente desejava.
Perdi a mulher, comprei uma rede. Amarela com traços brancos encardidos. Coloquei uma lâmpada forte para ler e uma mesa para apoiar a xícara de chá. Assumi a velhice aos vinte e poucos anos.
Então, o corpo reagiu. Movimentos bruscos abaixo da linha da cintura me fizeram, primeiramente, crer que estava com problemas estomacais. "Talvez deveria trocar o chá de camomila pelo de cidreira".
Era mais embaixo.
O balançar desequilibrado, a possibilidade de ser flagrado pelos vizinhos do prédio ao lado, o vento coberto de maresia que chega quase frio da praia, ou quem sabe a simplicidade. A rede na varanda me fez crer na juventude eterna.
Liguei insistentemente para a 'moça nua' que outro dia foi obrigada a assistir o jogo do Vasco comigo. Ela veio por curiosidade. E outras ainda vêem...
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