NIRVANA
Nato Borges

De que mais precisa o amor para ser maior, ou mais amor. Mais que ele mesmo, o tempo. Tempo pra amadurecer, se achar verdadeiro e se encontrar sem vestígios de pudor ou coisa que se ponha na sua frente. Fosse uma carta, eu te diria que de menos só há as paredes que deixamos para trás.

Quantos anos já? Quinze, dezesseis, por aí espalhados e ainda sabendo que há outros tantos pela frente. Quanto mais tempo para saber que é você mesmo! Mais engraçada é a dúvida: tem dias que você me pergunta se te amo, ou se ainda te amo, ou se vou te amar para sempre. Você nunca me perguntou se te amo mais que antes, como se isso parecesse impossível. Não foi até agora. Não pode existir prazer na dúvida, e hoje sei o que é Ter prazer do seu lado.

Cada dia mais me convenço que não há glória – qualquer que seja – na descoberta. Essa é cheia de medos, falsas delicadezas e verdadeiros constrangimentos. O verdadeiro prazer está exatamente em saber onde ele está. Não há graça em aprender a tocar um instrumento, mas em tocá-lo com virtuosismo, sabendo onde está cada nota.

Hoje eu sei. Sei de olhos fechados onde estão suas certezas, seus medos, seus gemidos e seus desagrados. Não há prazer maior que esse. Não pode haver estímulo melhor. Não há amor maior.

Fosse uma carta, eu te diria que ainda hoje seus seios me dão água na boca, assim como passear pelas suas pernas e costas e rosto e cabelos. Ainda não me cansei de ficar cansado à noite, nem de ver você descansar nua, mesmo que por alguns minutos. Hoje eu sei que você não gosta de ficar nua além do tempo.

Ainda hoje olho para você com olhos de quem passa fome à porta de um restaurante e chega a pedir quase de joelhos por um resto, um pouco de alimento que seja. Mas hoje eu sei que gosto você tem, o que só aumenta minha fome e minha satisfação quando a sacio.

Até hoje te vejo dormir nas manhãs em que saio apressado, ou mesmo naquelas em que fico, sem pressa. Hoje eu sei que não devo acordar você, mas não conheço imagem mais bonita que a de te ver ressonar como uma criança, ou puxar nervosa o lençol quando suas costas se sentem desprotegidas.

Não sei o que mais diria. Também não precisaria, você também não precisaria. Só um beijo e um prato de comida. Fosse uma carta eu diria seu nome...

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