VIVA A BUNDAXÉ!
Maurício Cintrão

Alguns amigos vão achar que fiquei louco. Mas eu considero a nova música baiana absolutamente excitante. Acho até que tem propriedades afrodisíacas. Pudera tivesse a pélvis com o molejo necessário para dançar. É lindo ver como as pessoas se mexem ao som lascivo e luxuriante do axé (que já foi lambada). E fica todo mundo com cara de safado.

Sei muito bem que vou ganhar direito a surra de urtiga na lista da Gréia, dos meus companheiros de Maceió e Recife, que odeiam esse estilo musical apelidado de bundaxé. Poxa, mas eu gosto desse tipo de música exatamente porque é bundaxé. "Sem o seu amor vou cair na solidão, sem o seu amor vou grudar, pegar na mão". Tem como não bundaxezar ao som de uma música dessas?

Confesso que nem reparo direito nas letras. Isso porque mantenho uma relação de fascínio pela plástica das músicas. O que me encanta (e excita) é a combinação entre os sons da percussão e os sons das palavras cantadas. Poderia dizer que é um tesão fonético. Ouvir Ivete Sangalo (que é linda, aliás) cantando aqueles versos é uma delícia, não importa o que digam. Ver as pessoas remexerem sob o efeito desses sons, então, é maravilhoso.

Os acadêmicos vão afirmar que estou defendendo uma heresia musical. Mas imagine axé music com letra profunda, não faz balançar a rima. Porque, para chacoalhar certas partes do corpo, só mesmo com letras que correspondam ao ritmo e ao ritual excitante dos tambores. Os autores dessas músicas não escrevem poesia, fazem percussão com palavras, o que é diferente. 

É evidente que as possibilidades comerciais de determinados tipos de música fazem proliferar grupos musicais fabricados para fazer dinheiro. Duram uma temporada e depois desaparecem. Também concordo que há abuso em gestos e poses nas coreografias de alguns desses grupos. Mas aí levanto uma hipótese, aqui dos baixios de minha modéstia pseudo científica. O que provoca esse gestual lascivo é a música e não o contrário. Os grupos comerciais é que fazem uso desse fenômeno invertendo o processo.

Ahn?

Explico: a música baiana destes tempos é sensual. Sugere uma dança igualmente sensual. E é a combinação desses dois fatores que faz o sucesso do estilo. Aí, vêm os fabricantes de sucessos e inventam conjuntos de meninas bonitinhas e bem servidas para rebolar em público e faturar os tubos. Isso não tira a beleza original desse tipo de música. Entendeu?

Portanto, venho de público afirmar por meio desta que gosto da nova música baiana e ponto final. Cada um tem o afrodisíaco que considera mais interessante. O que não significa, é claro, que eu sonhe em transar no Pelourinho ou que eu tenha fantasias com dançarinas siliconadas. Longe de mim fantasiar coisas desse tipo. Se bem que aquela moreninha é bem jeitosa, mas... Ah, esse é outro assunto e não desvie a minha atenção do tema!

fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.