A CADA GOSTA, MORRE UM SONHO
Luciana Pareja Norbiato

A vida tateia surda por seus domínios obscuros
Tentativa e erro de suportar a dor,
Mas e o meu afrodisíaco?
Tentativa e erro, o sexo vem,
Mas é resto, restolho, é pouco,
Ainda que o estímulo para acontecer
Seja a gota de sêmen, a gota de sangue,
A gota sagrada, vaticínio.
Vasculho artérias e veias em busca do amor,
Em busca da faísca que risque e queime meu desejo,
Em busca da origem de tudo,
Da origem do homem,
Da origem da dor que levou para longe o meu desejo.
Ensejo, a gota de leite inspirador que me leve,
A gota de minha dor que se desvaneça,
A corda da minha história que se desenrole lenta,
Sem pressa, mas atenta e vibrante e sempre queira.
Enquanto não posso, enquanto me foge o furor de anos
Jovens, nos quais eu deveria ser sem engano,
Enquanto a dor me corta o cenho e o cérebro e minhas idéias,
Hei de procurar a gota etérea
Que há de me fazer gozar em bólides,
O meu celeste afrodisíaco.
Mas se não existir tão potente afrodisíaco,
Ou mesmo se seu poder for ínfimo,
Saberei doer de uma vez e encontrar a morte?

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