O PRIMEIRO AFRODISÍACO
Eduardo Loureiro Jr.

O primeiro afrodisíaco de que se tem notícia era um negro escravizado pelo Império Turco-Otomano. Ele era originário de uma extinta região africana de nome Dísia, e seus companheiros escravos na Turquia eram chamados de afro-disíacos.

Como eram um grupo minotário sob o domínio turco, além de serem oriundos de uma região muito pequena e desconhecida, os afro-disíacos teriam sido apagados da história se não fosse por esse primeiro afro-disíaco: um negro de quase dois metros de altura, que teve sua castração e seu degolamento citados em uma das crônicas históricas da época.

Segundo o historiador (então chamado de cronista) Khabon Kibur, o tal afro-disíaco, cujo nome não foi registrado, sofreu morte violenta por ter ousado copular com umas das 387 mulheres do califa. Como o afro-disíaco teve acesso ao harém, ninguém sabe, já que também nenhuma indicação foi dada pelo cronista, mas subentende-se, pelas referências pouco graciosas à mulher, que talvez tenha sido ela própria que procurou o afro-disíaco, também não se sabe bem como.

Mas Khabon Kibur queria apenas fazer média com o rei ao destratar sua mulher. Se o próprio cronista não fosse amante da esposa do califa, e não tivesse também sido castrado e degolado, não saberíamos pelo novo cronista oficial, Ishab Kholeb, que o afrodisíaco era usado para excitar as relações sexuais entre Khabon Kibur e a esposa do rei.

Mesmo depois do afro-disíaco morto, o casal infrator ainda usava o pênis negro castrado como parte de seu ritual sexual. Foi no meio de um desses encontros eróticos que o velho cronista foi apanhado, sendo condenado, castrado, morto e substituído por Ishab Kholeb. Então o novo cronista, por inabilidade no uso da língua, usou uma expressão que assumiu duplo sentido: "O criminoso Khabon Kibur utilizou-se de um instrumento afro-disíaco para seduzir e excitar a esposa do califa."

Por algum motivo, talvez por prestar favores sexuais também a Ishab Kholeb, ou porque, apesar da traição, ela ainda satisfizesse o califa, nenhuma punição foi dada à esposa. Imaginar que, então, ela passou a usar um pênis afro-disíaco e outro turco em seus encontros sexuais com o novo cronista não passa disso: um exercício de imaginação. 

Mas o nome de origem do homem que por várias vezes "entrou" na esposa do califa entrou também na história e nos dicionários. Afrodisíaco é tudo que aumenta o apetite sexual, mesmo que as senhoras carentes dos tempos modernos se escandalizem ao pensar que a hoje sofisticada taça de absinto foi, um dia, apenas o pênis negro de um afro-disíaco.

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