FRACTAL IX
Sérgio Galli

(Ao som de François Couperin)

"Chega de intermediários, Anne Kruger para presidente".

Ponto de partida, ponto de chegada. Ponto pacífico. Partita (J. S. Bach).

Chega de conversa fiada, entrelinhas, lero-lero, frases entrecortada, dissimulações, enrolações e querela bizantinas. Para que tudo isso? Pois que o Fundo Monetário Internacional, mais o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento assumam o País. Assim, yes nós temos banana, cacau, lula, Ciro, serra, antony litle boy FHC, BNDS, IVA, ICMS, big-brother, casa dos artistas, ratinho, datena, Faustão, pegadinha, carnaval, samba, mulata, coca-cola, cantor belo, pagodeiros, axé, caetano, gil, ambev, paulo coelho, academia brasileira de letras, acm, soja, big-mac, beti a horrorosa, ipanema, pelourinho, superávit primário, hedge, default, real, rainha dos baixinhos, rei do futebol, e, claro, o Príncipe.

Assim, é o Brazil, pentacampeão, inserido na mundialização.

O Ministério da Fazenda fica com o Citybank. O ministério das Comunicações, com a IBM. O ministério da Cultura, com a Universal ou o estúdio do Spielberg. O ministério da Educação, para a Microsoft. O ministério da Agricultura fica com a Monsanto. O ministério da Saúde, com o laboratório Roche. O Ministério do Esporte, com a Nike. E assim por diante. Como vivemos na democracia, isso será renovado periodicamente, ou seja, a Adidas no lugar da Nike, a Warner no lugar da Universal e assim por diante. Usem a imaginação.

Por falar nisso, como diria o velho Raul Seixas, "a solução é alugar o Brasil". Nessa linha de pensamento, que a Amazônia e o Pantanal sejam entregues para serem administrados pela Organização das Nações Unidas. O Maranhão de Sirnay seja devolvido aos franceses, Pernambuco, aos holandeses, a Bahia, aos portugueses. Aos japoneses caberá a responsabilidade pelos oito quilômetros de praia e, claro, também o Rio de Janeiro. E continuem a usar a imaginação, precisamos de sugestões criativas. Afinal, este é o País do futuro, ou, no verso de Aldir Blanc "O Brazil, se cercar vira hospício, se cobrir, vira circo". 

E quando haverá o ponto de mutação? Haverá?

Mas nada do que escrevi até agora tem importância. Mais, jornalistas e cronistas não têm a menor importância (claro, há uma exceção, Luis Fernando Veríssimo). O que importa é o tênis novo do mario prata, a estréia da próxima novela, o novo design do velho carro, o desfile fashion, o filme do homem-aranha, a nova propaganda da velha cerveja, a cotação do dólar, a musa do próximo verão, o "artista" que se divorciou da "artista", a "atriz" que posou desnuda na revista masculina, a "notícia" quente que saiu na coluna social,... E ponto final. Fatal. 

Sérgio Galli
Inverno, ma non troppo, de 2002

Sugestão de leitura: "A ratazana", de Gunther Grass, "O espelho enterrado", de Carlos Fuentes, e "A década do impasse da Rio 92 à Rio +10", de Washington Novaes.

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