DELÍRIOS DE QUEM NÃO BEBE, NÃO FUMA,
NÃO USA DROGAS MAS NAMORA 
Mairy Sarmanho

No meio do Pacífico, totalmente pacífica mas falando português (ou, devo dizer, brasileiro?) comecei a pensar na vida. E roí as unhas com tamanho desespero que fiquei com os dedos em carne viva, pois quando penso devoro minhas unhas numa autofagia cruel... E comecei a pensar nas brigas de sempre, em como todos querem ser donos da verdade, na forma estabelecida pela regra social que de social não tem nada e daí por diante...

Ponto pacífico, uma ova, ponto guerreiro!

Nunca consegui ver a tal paz. Nunca, mesmo! Se estou em paz comigo mesma, meu vizinho não está; se estou eu paz com meu trabalho, meu chefe não está; se estou em paz com o governo, o governo nunca está em paz comigo! 

E daí, vocês vão perguntar, o que temos a ver com isso?

Nada!

Eu estava aqui, sem fazer nada e decidi escrever essa mal escrita crônica, porque penso que sei escrever e resolvo que alguém deve ler essa merreca... Alguém leu? Se leu, por favor, mande um e-mail contando... Sempre tenho a impressão que estou a escrever besteiras para o completo nada. Absoluto nada. Imensidão perfeita do nada.

Ponto pacífico: eu não escrevo para ninguém, nem para mim mesma...

Mesmo assim, eu vou tentando... E vocês, ainda tentam, também?

Vou lhes contar uma historinha curta, mas verídica: eu trabalho numa repartição pública, daquelas que o povo sustenta (pelo menos diz que) e o governo diz que não passa de um bando de vagabundos (que trabalham feito uns animais, para bem da verdade), para a qual fiz um concurso público concorrido e para o qual me matei estudando. Tudo bem, fui eu que escolhi a masmorra, mesmo...

Mas, trocando de saco para mala: trocou a chefia de cima e foram caindo as cartas... Uma após a outra, foram saindo de levinho, cedendo lugar para a debaixo, num ritual que só conhece bem quem trabalha num lugar desses. E daí, veio a batalha: todos querem ser chefe! Hah, então vão ganhar um dinheirão para isso, vocês perguntarão! Coisíssima nenhuma! Vão ganhar uma esmolinha, trabalhar quatro, seis horas a mais por dia, ouvir uma porção de fofocas, desaforos, injustiças e, quando tudo terminar, ficarão odiados para sempre e, depois, esquecidos para sempre. Como todos os chefes que conheci.

E daí, qual a graça?

A graça, crianças, é que eles querem seus minutos de fama, mesmo que isso lhes custe a alma... Infelizmente, não é só no meu emprego que isso acontece, acontece em todos os lugares desse imenso Brasil, pessoas se acham superiores por alguns segundos e sacrificam tudo, até mesmo a dignidade própria e alheia, por uma glória irreal e obsoleta.

Eu prefiro permanecer índia.

Lugar de chefe é tribo, e tribo é no meio do mato, não no meio da cidade grande. E eu adoooooro viver meu dia-a-dia na maior simplicidade e, no final do mês, ser lembrada porque adorava escrever e pintar, não porque persegui ou torturei uma criatura qualquer só para mostrar o poder que não tinha mas acreditava ter...

Ponto pacífico é dizer que somos todos feitos do mesmo latão reciclado e que, basta nos darem um pouquinho de água que a gente enferruja e contamina tudo à nossa volta. Por isso, fica um conselho: vivam suas vidinhas medíocres e simplórias como eu e seja, sejam, muiiiiito felizes! De verdade!

Paz para todos os que não almejam nada da vida além de ser um pontinho no meio da folha em branco!

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