A DESCOBERTA
Ly Sabas

Os galhos mais baixos do frondoso sicômoro, formam um esconderijo perfeito para o banco onde tenta analisar os últimos acontecimentos. Por entre as folhagens, os raios do sol transformam os longos cabelos ruivos em uma cascata luminosa, emoldurando os traços delicados. Fundo suspiro ondula o colo, aprisionado no decote casto. Aos seus pés repousa uma cesta onde traz escondida, por entre apetrechos de costura, a pequena pintura descoberta na biblioteca, um pouco prejudicada pela umidade e a poeira.

Depois de cuidadosa limpeza, o que viu deixou-a perplexa! Era ela retratada em outra época numa montanha rochosa, coberta de musgo em alguns pontos, porém sem grandes vegetações. O olhar mergulhado na tela vai se expandindo e aos poucos deixa de sentir o suave perfume das acácias e a floresta, que se estende até a milenar mansão de pedra, vai se transformando no caminho tortuoso onde se vê caminhando, com passadas delicadas e cautelosas, até a abertura de uma caverna. Sabe ter sido deixada ali por ser a virgem escolhida para aquela estação e sente, no fundo de sua alma, que aceita o sacrifício inelutável.

Estica o pescoço em arrepios nervosos, tentando ver um pouco além da escuridão provocada pelo contraste da claridade exterior. Avança alguns centímetros, tomando o cuidado de pisar em linha reta de maneira ser possível voltar sobre as próprias pegadas sem provocar outro rastro. Antes do que parece ser o início de um túnel, brilha fracamente uma claridade não deixando-a entrever quase nada. Com a pequenina mão esquerda em punho, aperta o coração ao mesmo tempo que, com a outra, segura em súplica muda, uma medalha pendente de delicado cordão.

Procurando não fazer nenhum ruído que denuncie sua presença, abeira-se da fraca luz e constata vir de estalactites que pendem do alto de uma gruta de tamanho médio. Esquece o medo e, soltando a respiração, olha em todas as direções embevecida. No grande salão, há monturos de pedras de diversos tamanhos e formatos e pedaços partidos de algo que imagina ser de aço. Abaixa-se e analisa mais de perto um desses fragmentos. Ao averiguar ser a parte do meio de uma espada, seu coração dispara em zumbidos altos nos ouvidos. Olha, apavorada, os outros pedaços reconhecendo pontas e punhos de espadas de tamanhos desbaratados, como se tivessem sido usadas por anões e gigantes. Respirando fundo e soltando o ar pela boca, deixa novamente o olhar passear por toda a extensão visível das paredes de pedra.

Dá um leve salto, levando ambas as mãos à boca ao detectar a formação de um raio de fogo disparando em sua direção. Qual estátua de sal, onde somente os olhos têm vida, acompanha a aproximação bamboleada do monstro que fareja seu medo no ar viciado. Como se indeciso quanto à figura patética à sua frente, o ser estaca e vai se abaixando até ficar em uma posição entre o sentar e o deitar de lado.

O pavor em encontrá-lo depois de tanto o procurar, vai amainando e passo a passo encurta a distância até tocá-lo com a barra do longo vestido lilás. Olham-se e é como se reconhecessem, nas pupilas um do outro, os próprios temores, angústias e medos. Sorrindo, estica a mão para afagá-lo delicadamente. Da ponta de seus dedos saem faíscas que iluminam a carranca medonha. Encosta o delicado corpo na massa informe e lançando os braços ao redor do pescoço imenso, deixa-se ficar...

Com leve estremecer, volta a realidade do esconderijo na floresta e de seus límpidos olhos rolam lágrimas de saudade. 

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