PONTO
SEM NÓ
Fábio Luiz
- Coloca o dedo aqui! Não solta!
- Você sabe MUITO bem o que está fazendo né?
- É lógico que eu sei! Vi isso em um monte de filmes!
- Como viu? Você nunca fez isso antes????
- Vamos dizer que eu tenho uma idéia bem concreta do que fazer! - o suor já brotava.
- Vê bem, hem, Dudu?! Eu quero estar linda para a festa! - Imaginava os olhares invejosos de Matilde, Cleudenir e Zurima. Morderiam os próprios colares. Ou usariam para se enforcar. Quem sabe sobrasse algumas pérolas para sua coleção de jóias falsas.
- Aperta direito que quero minha silhueta perfeita!
Mirava-se no espelho e não entendia porque a vendedora insistia na venda de um vestido três números acima do que ela queria. Até parece que chegaria ao "Baile Anual das Maravilhas do Bairro" vestida com um vestido folgado. Esse, sim, deixava suas curvas bem delineadas. Era complicado respirar. Daria um jeito. Respirar pra quê, afinal? "Hei de sofrer para bela ser!".
- Ops!
- Ops? Que "ops" o quê? Acaba logo com isso. Meu dedo está doendo. Posso tirar? Acabou de dar o nó?
- Se quiser pode tirar. O problema vai ser conseguir. Sem querer eu amarrei seu dedo junto.
- Como prendeu meu dedo? Você me solte agora que já estou atrasada para me atrasar.
- Calma! Eu dou um jeito. Quem sabe uma tesoura?
- Que tesoura? Ta louco? Nada disso. Irei assim mesmo. Pensarão que é estilo.
- Estilo? Tá parecendo uma manequim de vitrine.
- Adeus! Abafarei.
As manobras para entrar no táxi já valeriam um ingresso. Pessoas na janela aplaudiam e riam. Mas afinal ela conseguiu a façanha e saiu sob aplausos maiores ainda e elogios a seu vestido.
O trânsito não estava ajudando. Mas estava preparada para isso. Sua imaginação a levava mais cedo à festa e ao encontro de César, o mais cobiçado dos solteirões. Médico talentoso e conhecido pela maciez das suas mãos pela maioria das amigas. Ou inimigas de acordo com o ângulo ou teor da fofoca. Aquele homem era um sucesso realmente. O fato de ser um tanto quanto chegado a drinques durante os plantões era apenas um detalhe. Nem mesmo o processo por erros médicos perturbava seu sorriso e seu charme. Era geral a opinião entre as mulheres casadoiras: Ele era o prêmio maior!
Por um momento tudo ficou escuro quando o táxi parou. Mas logo ela via as portas se abrindo e uma luz intensa sobre seu corpo. Estranho, pois não andava. Ela estava sendo transportada numa maca. Não era o salão de baile. Era a sala de emergência do hospital. Uma das "amigas" batia em sua mão fria.
- Fique calma. Cuidarei de você. - Aquele odor de álcool e a voz eram conhecidos.
- César? Você! - Exclamou agarrando-se aos braços de seu príncipe.
- Sim, sou eu! Você chegou desfalecida à festa. Rapidamente viemos ao hospital. Seu dedo estava preso às costas do vestido. Tivemos que cortar os fios. Por que estava assim? O vestido estava muito apertado. Tive que rasgá-lo um pouco. Faltou-lhe como respirar.
Entre envergonhada e feliz, ela resolve aproveitar a situação:
- Ah, conto mais tarde só para você!! - Sorria com um olhar revelador e provocador à sua rival.
- Ok! Combinado. Agora vou dar uns pequenos pontos no seu dedo cortado.
- Ponto?
- Sim. Nada demais. Apenas uns nós.
- Hm! Não precisa que eu ponha o dedo não, né?
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