O
PAÍS SUBIU NO TELHADO
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Maurício
Cintrão
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A
expressão já virou código conhecido entre meus amigos e colegas de trabalho.
"Olha, é melhor ir dando umas dicas para o cara perceber que a mãe dele
subiu no telhado". Isso significa que ele vai perder alguma coisa, alguma
proposta dele será recusada, algum projeto vai ser cortado ou, até, que
ele vai perder o emprego.
Para quem não conhece, o "subir no telhado" nesse sentido tem a ver com uma piadinha velha. Reconstituir piada é sempre um problema. Mesmo assim eu arrisco. A versão que eu conheço é assim: o empregado manda um telegrama para o patrão que estava viajando. "SEU GATO MIMI MORREU!". O patrão quase teve um enfarte, porque adorava o bichinho. Foi aquele trauma na família, que passeava em férias. De volta à sua casa, o dono do gato chamou o funcionário de lado e explicou: "Meu filho, a gente não dá uma notícia dessas assim. Tenha mais tato. Vá contando a história aos poucos. Prepare a pessoa para a notícia ruim. Por exemplo, você podia mandar um primeiro telegrama assim: SEU PEDRO, SEU GATO SUBIU NO TELHADO, ESCORREGOU E CAIU. Depois, manda outro: SEU PEDRO, SEU GATO ESTÁ MUITO MAL. E por aí vai, até dar a notícia da morte. Compreende?" O funcionário disse que entendeu e a coisa ficou por aí. Alguns meses depois, o patrão voltou a viajar. De repente, recebe um telegrama da fazenda: "SEU PEDRO, SUA MÃE SUBIU NO TELHADO". Nestes tempos de crise que tanto assustam, a expressão vem sendo usada com freqüência cada vez maior. E o que tem de mãe subindo no telhado não é brincadeira. Muitos amigos estão em apuros, com falta de clientes, falta de novos projetos e até falta de emprego. Daqui a pouco, vai faltar telhado para tantas mães. Neste momento, se fosse brasileiro, Sadam Husseim diria que o telhado é a mãe de todos os projetos. Teria razão. Eu não arrisco nenhum palpite sobre o que vai acontecer daqui a dois ou três meses, porque os "cenários", como dizem os economistas, não permitem previsões seguras. Aliás, a coisa está tão feia que até os cenários estão desmilingüindo. O dólar sobe, mas quem vai para o telhado somos nós e nossos sonhos. Porque, no final das contas, quem paga o prejuízo são os contribuintes, sempre. Não importa que o motivo seja a crise na bolsa de valores de Nova Iorque, o novo acesso de ira internacional do Bushinho, como diz o Jabor, ou as noites de terror do Especulacenter sobre quem será pior para o Brasil, Lula ou Ciro. Tenho medo, sim, pois a situação não dá motivo para risos. Quem já enfrentou o seqüestro das poupanças no tempo da ministra Mizélia, está sentindo um cheiro de problema sério no ar. Paralelamente, velhos monstros da política estão voltando com força total. É de assustar. Por falar nisso, meu amigo Fernando, da Gréia, diz que já corre um novo slogan satírico em Maceió para a mais recente campanha de saúde local: Evite o câncer de Collor. Haja telhado para este País! |
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