COMO QUEM TROCA DE ROUPA
Míriam Salles
Padre, pequei. Bem, não sei se é bem um pecado... Escuta só. Sabe o Joaquim, o filho do padeiro? Pois é, estou ficando com ele. Não sabe o que é ficar, padre? Ficar é namorar sem compromisso, sabe. Dar uns beijinhos, avançar um pouquinho, essas coisas, entende? Então, fiquei com ele, duas vezes. Numa delas usei meu vestido cor-de-rosa e na outra, minha mini-saia preta. Ele é uma graça, padre, não consigo resistir. Até ai tudo bem. O problema é que estou namorando o Lauro, o filho do jornaleiro. Sou doida por ele, padre. Ele é tão carinhoso comigo, é inteligente, sabe tudo que acontece no mundo, e beija como ninguém. Adora quando uso meu vestidinho cinza chumbo, ou quando coloco aquela calça justa de cintura baixa com o top bordô. Mas também não é esse o problema, sabe, padre? Tem mais. Também namoro o Lucas, filho da costureira. Ele que me ajuda a escolher os tecidos pra mandar fazer meus vestidos. Até desenhou um modelito bem sensual, vermelho, pra eu usar na festa da Carminha, filha do dono da farmácia. Quando ele me abraça, ah, meu Deus, eu me derreto todinha. Então, padre, como pode ver, as roupas que uso com um, nunca uso com outro. As palavras que digo pra um, nunca digo pro outro e os beijos que dou em um, nunca dou em nenhum dos outros. Então, eu sou fiel a cada um deles de alguma maneira. O problema, padre, é que eu amo muitos.
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