PARTIDÁRIA
Marco Aurélio Brasil Lima

O inflamado discurso de doutor Alcides Matoso na tribuna vai com certeza entrar para a história política da nação. Que justeza de palavras, que gestos eloqüentes, que primor de oratória, que transportes de entusiasmo rompante!

Esse grande homem demonstra a cada dia uma crescente sensibilidade política, uma habilidade ímpar no manejo das ferramentas dessa gloriosa ciência. Exatos trinta e sete minutos levou em achincalhar as nefastas pretensões predatórias dos que se levantam contra sua emenda que exige a construção de açudes no norte das Minas Gerais.

Ele desce com seu nobre porte e troca tapinhas nas costas com seus pares, enquanto outro representante popular assume a tribuna.

Ele sabe que é o momento de engordar seu "passe". Em uma semana estará terminada a possibilidade de migração partidária. Esse verdadeiro bastião da ética e da idoneidade ouve com atenção o que PMDB, PL, PFL, PTB e PSC têm a dizer. Como é arguto! Como é diplomático! A ninguém torna um não, a todos promessas inflamadas como inflamado fôra seu discurso. 

Pelo plenário ele se move com a segurança de quem conhece seu peso, seu valor. Ouve a proposta de cá, ouve a proposta de lá, melhora sua posição acolá e mais adiante promete a concessão que havia pouco negara.

Enfim, já no conforto de seu faustoso gabinete, fecha pela proposta mais gorda, do PTB, mediante o compromisso de poder indicar o secretário de obras do governo das Minas Gerais.

O colega petebista lhe estende um charuto pra sacramentar a oitava mudança de sigla da gloriosa carreira de doutor Alcides Matoso, mas, personalidade forte que é, ele recusa.

É que só fuma Havana e a essa iguaria promete fidelidade até a morte.

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