TRAIÇÃO
Luisa Jardim

Tereza estava louca de raiva. Juvenal tinha outra mulher. Não era apenas desconfiança, nada disso. Ela ouvira a confirmação da boca de Michele, a amante, que tivera o desplante de confessar, na sua cara, que se encontrava com ele todas as terças e quintas, na hora do almoço.

Talvez, se ele tivesse confessado, ela o perdoasse e continuariam a viver como sempre viveram, em paz, cada um vivendo a sua vida. Mas o safardana, negava - "que hora eu tenho para ter amante?" - no maior descaramento! 

O que mais a magoava era que, além de traidor, ele ainda escolhia uma zinha daquela, cabelo louro mal pintado, dentes mal arrumados (não conhecia nenhum dentista, a coitada?), sem nenhuma classe. 

Logo com ela, que tivera o maior cuidado para que ele não descobrisse nenhum de seus relacionamentos, que sempre o tratara com todo o respeito, tomando todos os cuidados, até o fim, para que ele fosse poupado? Ah, nunca o perdoaria! 

Afinal, ela sempre se preocupara em manter tudo na maior discrição: os lugares escolhidos, os horários. E uma vez até terminou um relacionamento porque o namorado queria ser o mais importante em sua vida e isso ela não admitia - o primeiro seria sempre o Juvenal.

Claro que ela sempre percebera o ciúme de Juvenal e isso a tornava ainda mais cuidadosa - os telefonemas no meio da tarde para o seu celular, sempre querendo detalhes de onde ela estava, o cuidado como olhava o remetente das correspondências sobre o aparador, como conferia a conta da TELESP, perguntando sobre um ou outro número, como examinava sua bolsa (quando a imaginava distraída), como inquiria sobre cada roupa nova que via no seu armário. Agora ela sabia que ele fazia isso por estar com a consciência pesada! Mas, pobre coitado, não percebera que ela era muito mais esperta que ele.

E agora essa, a amante fugira do seu controle e viera falar com ela.

Quase sufocada de humilhação, sua vontade era dizer a ele - "eu estou pouco me lixando para sua infidelidade! O que não perdôo é a falta de cuidado, me deixando ser humilhada e, ainda por cima, por uma mulher muito pior que eu, mais feia, desarrumada, sem classe!"

Mas não disse nada. Seu olhar magoado, doeria nele para o resto da vida, como iria doer o seu bolso, quando ela lhe tivesse arrancado até o seu último centavo no divórcio.

E como iria doer o seu coração, após perder os filhos que, naturalmente, ficariam do lado da mãe, aquela mulher maravilhosa, fiel, companheira, que fora traída.

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