FALTOU FIDELIDADE
François Porpetta
Tá bom, eu reconheço. Faltou fidelidade, e não foi pouca - ao contrário da gravidez acredito que exista a classe dos mais ou menos fiéis, na qual me incluo -, mas há atenuantes para o caso.
Fica pairando a dúvida do copo, se sou mais ou menos fiel, ou menos ou mais infiel, ou tanto faz.
Até que tentei pesquisar sobre o assunto com alguns amigos, mas as primeiras conclusões pareceram-me estarrecedoras. Fidelidade ou é associada aos mais dignos exemplos caninos, ou aos mais sexuais exemplos humanos.
Gosto demais dos "irmãos caninos", tenho a maior admiração pelos dedicados bichinhos. Sou do tipo que pede em silêncio pela alma de cada cachorrinho (ou seja que bicho for) que encontre atropelado pelas ruas e estradas.
Mas não sou fiel.
Fico com as duas vertentes: sou naturalmente e desinteressadamente, fiel e infiel.
Sem pressão ou obrigação, sou fiel ou infiel quando me dá vontade. Se a dita não aparecer, só cumpro com meus deveres de fidelidade perto do limite máximo do cartão vermelho, e por pura obrigação.
Dou muito mais valor, garimpo e cultivo as fidelidades e as infidelidades espontâneas, desobrigadas e livres.
Não tenho sido fiel aos Anjos de Prata, e hoje só estou aqui praticando a minha fidelidade limite porque a morena não foi fiel comigo e me deixou na mão.
Eu confesso: adoro perpetrar esta fidelidade angelical. Adoro desvirginar folhas e telas brancas, até o ponto onde já não sei mais, se sou fiel ou infiel. Mas tenho a maior dificuldade para a fidelidade por obrigação com hora marcada.
Não vivo de escrever, escrevo porque vivo. Gostaria muito que fosse o contrário, mas é assim, tanto quanto só posso ser fiel espontaneamente.
A essência inata, pura, e incontida, desta atitude torna muito mais gostosa a espontânea fidelidade.
Tem que valer mais!
Essa é a minha atenuante!
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