OS
CASTELOS DOS HOMENS SEM ALMA
Fernando Zocca
Dentro daqueles muros, com os passos entravados pelos elementos químicos nelas inseridos, aquelas legiões imensas, de homens derrotados, vagavam tontas.
Seriam vítimas da sua própria ingenuidade? Seriam indivíduos tentando entender o mundo etéreo dos espíritos? Eram pessoas confusas e frustradas. Haviam as vítimas das violências físicas, das violências morais e as das ações insidiosas.
Eram os bodes expiatórios, os sacos-de-pancadas, os bois-de-piranha, e os derrotados pela sociedade, que ali morgavam alheios, sob a luz solar. Não eram criminosos. Eram dissidentes, inconformados com a submissão. Eram os que criam naquilo inexistente.
Dentre os muitos ali encerrados, poucos se salvariam. Os que conseguissem manter-se vivos, teriam pela frente a consciência de que eram reféns de alguns privilegiados.
Escravos dependentes químicos. Seus senhores baseavam suas condutas de controle nas teorias preconceituosas imaginadas antes da concepção dos valores sensatos de liberdade, igualdade e fraternidade.
Os que vivessem, os que conseguissem livrar-se das amarras da bioquímica limitante, seriam os palhaços sobre os quais a ira, decorrente das frustrações das comunidades malucas, recairiam.
Os demiurgos sabiam, com sobras de ciência, que aqueles cérebros vitimados eram compostos como os demais. Não existiam diferenças anatômicas. Nada fora das concepções morfológicas indicativas de patologias.
Mas como então manter os fluxos da riqueza, se não houvesse hóspedes a consumir os seviços prestados entre os muros das superestruturas? Em quem a estupidez, a idiotice, e a doidice das comunidades insanas se descarregariam?
Os líderes políticos, do cu do mundo, moral e intelectualmente pobres, mal informados e maldosos, não poderiam nunca ascender socialmente se não houvesse em quem bater impunemente. Os joão-bobões, que suportavam a expiação dos culpados, eram formados naqueles castelos, onde os homens não tinham alma.
As residências senhoriais eram compostas com os resíduos das mentalidades arcaicas. Alguns sempre foram superiores aristrocratas mandantes enquanto que os outros, a grande maioria, inferiores plebeus obedientes.
Não era raro perceber um dos conceitos vigentes: "Para que houvesse nosso progresso pessoal, familiar e material, muitos sofreriam e se sacrificariam". Era o supra-sumo da mentalidade escravocrata.
Em quem recairia a chacota do frustro?
As teorias criadas por Eugen Bleuler somadas a um outro amontoado de equívocos, codificados pela demagogia, proporcionariam o surgimento de centenas de castelos onde os homens perderiam suas almas. Nessas praças-fortes milhares ganhariam ferretes iguais àqueles impingidos às vítimas do nazismo.
O orgulho maldoso e a inveja notória impediam que a luz da solidariedade chegasse até aqueles corações inclementes. Em arroubos de fidelidade, torceriam contra a própria seleção e fariam crer que para a sobrevivência daqueles enganos, enfeixados nas obras falsas, alguém deveria pagar com a vida.
Esqueciam porém,os doidos, que já no início, Jesus havia morrido em decorrência dos pecados do mundo.
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