HIPOCON...
COMO É QUE É?
Ly Sabas
Nem sempre as coisas se passavam como programava. Já estava cansado de engolir reclamações dos outros membros da família e as suas próprias, diga-se de passagem. Precisava resolver esse enigma (gostava bastante dessa palavra que aprendera na revista Coquetel) sozinho, porque jamais iria confessar a qualquer um deles que acreditava que estava ficando... como era mesmo que a sogra falava? Ah, esclerosado! Esquece, não daria à mão a palmatória. A mão ou seja lá o que fosse! Mas, pensando bem, talvez fosse o caso de "dar" o cérebro em bandeja para algum especialista. Já fizera tudo o que era exame. Desses que qualquer amigo barrigudo indica, enchendo a boca como um Paulo Francis de periferia:- Descobri que meu colesterol é 300! Olha lá, vai ver o seu.
Ora bolas, quem o amigo ou o feirante ou o porteiro ou o semi-conhecido de sala de espera, pensa que ele é? Um alienado? Um desses ... que passaram pelo século XX sem acreditarem que o homem foi à lua? Ele assistia, religiosamente, todos os domingos, ao Fantástico! Ganharia fácil, fácil uns trinta mil no Show do Milhão, se não morresse de vergonha de aparecer na televisão. Já pensou a D. Zuleica da barraca de frutas dizendo:- Vi o Sr. lá no Sílvio! Será que dá para pagar aquelas jabuticabas do ano passado? - Bem, esse pedaço ele não precisava imaginar. Mas, era isso aí. Quem afinal todo mundo pensava que ele era?
O neurolo... esse aí, resolveu que deveria fazer uma tomoalgumacoisa para descobrir o que andava acontecendo com o seu cerebelo.E ele lá sabia o quê era cerebelo? E você nem perguntou, seu mané?! - tinha gritado a sogra (sempre ela!) espumando. Essa era outra coisa que jamais confessaria, que tinha quase se borrado de medo daquela máquina barulhenta, que afinal não tinha descoberto nada. Na verdade não sabia se deveria ficar feliz pela integridade do tal treco! O médico, com cara de louco, olhou fundo em seus olhos, mandou que esticasse a língua e apontasse com a mesma o peito, depois um lado, o outro e o teto. Teve vontade de rir mas obedeceu, pensando em qual seria o comentário da velha sobre isso. Depois, ainda com cara de louco, recomendou que procurasse um psicólogo. Esse ele sabia quem era, afinal o filho vivia dizendo que iria tornar-se um e ele já tinha visto muitos nas novelas.
Ultimamente andava preocupado com um livro que lera a respeito da importância das frutas. Sempre ouvira dizer que banana engorda e faz crescer, mas que é possível curar-se de ... pé de pato mangalô três vezes... câncer, com uma dieta só dessa frutinha?! O médico-escritor, dizia que o homem nasceu para ser frugí... deixa prá lá, que devia comer só aquilo que as plantas deixam, principalmente os grãos. Tá certo que ele adora amendoím, ainda mais por causa daquela história do tesão, embora isso nunca tenha sido comprovado, pelo menos com ele e a patroa, mas almoçar e jantar amendoim torrado, japonês ou com aquele negócio branco em volta? Ah, tenha paciência!
Agora, seu sonho era sentar na varanda, com o tornozelo gotoso apoiado confortavelmente na almofada de crochê da sogra, e contar uma história da carochinha para o neto começando com: era uma vez um homem que tinha uma cabeça de alface. Essa imagem ele tinha visto na capa de uma revista no jornaleiro, e quase surtara pensando no outro médico que o mandara comer só chuchu com arroz!
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