DOCE ENIGMA DA VIDA
Lula Moura
Lá estava ele esparramado por cima daquele ombro materno em pé, com sua cor de leveza, cheiro de vida nova, cheio de pura pureza. Seu rosto dormia todinho. Seus braços largados e desprotegidos (Que cara folgado!) O sono profundo nem desconfiava. No seu sonho do sono, a visão do mundo é boa, sim. Quando abrir os olhos, daqui a alguns anos, é que as cores perderão um pouco a leveza, ou não (caetaneando novamente)...
O metrô seguia seu caminho, levando mais de tantos "universos diversos". Cada um de nós que ali estava trazia seus objetivos, ou os objetivos dos outros, enganados por eles, pensando ser nossos os tais objetivos. E o adjetivo fica por sua conta. Ou você pensa que irei assumir esta sozinho? A crônica é nossa...
Bem, o tempo é aqui, sim. O espaço, também. Brasil, por que não? O ano é 2002, tem "Copa do Mundo" (de "cabeça pra baixo") no outro lado do planeta. Tem gente por aqui se candidatando. Tem gente "Porraqui!" com quem está se candidatando. Tem gente fugindo, tem gente morando. Tem gente morrendo (Adeus Tim Lopes "um famoso", adeus Raimundo "um qualquer do povo"), tem gente matando (Dá um tempo, Elias Maluco. Dá um tempo, Capital-selvagem).
Morrendo, matando, morrendo, matando, morrendo, matando, e muito... Não necessariamente nesta ordem. Aliás, ordem é uma das coisas que está faltando. Vergonha e vontade política seriam outras. Mas a violência urbana foge a uma definição clara, mais parecendo um enigma (Ufa! O tema da quinzena).
A questão da grana, uma espécie de violência, é um jogo dos contrários (como cachorro atrás do rabo): Poucos tem muito, e muitos tem pouco (e eu, tinha que ficar logo neste grupo!). Com um intuito claro de manipulação e especulação, estão falando tão mal do tal de "Risco-Brasil", que vão trocar o nome para "Rasgo-Brasil" já, já. Afinal, eles riscam e rasgam o Brasil, não é de hoje...
Mas, não era bem disso que eu queria falar... Todas essas questões e preocupações são muito chatas, e bom mesmo é o nosso lado criança. E criança é assim, quando vê uma outra fica logo assanhada. Foi desta forma que eu me senti, quando avistei aquele pedaço de gente (com certeza o melhor pedaço).
Crônica que volta...
Bem, o tempo é aqui, sim. O espaço, também. Brasil, por que não?
O Metrô ainda seguia seu caminho, e ele continuava lá, esparramado por cima daquele ombro materno em pé, com sua cor de leveza, cheiro de vida nova, cheio de pura pureza. E ainda dormia todinho, com sua face gordinha parecendo me chamar: -Beija Tio, que eu vou descer na próxima estação.
Coisa rica! Dá vontade da gente pedir pro super-homem (da música do Gilberto Gil) fazer voltar o tempo (muito) pra poder brincar com ele.
Um dia comum. Um olhar. Dois seres (admirador e admirado)... Elo de gerações... Doce enigma da vida...
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