ENIGMÁTICO
Luís Valise
Trânsfuga.
Prófugo. Hedônico. Esquálido, julgava-se tesântico. Descrente, sabia-se
herético. Lívido. Pálido. Cálido. Olhava as mulheres com olhar satânico.
Despia-as em pensamentos tântricos. Enviava-lhes poemas fálicos. Inventava
carícias lúbricas. Ensaiava gestos lânguidos. Prometia gozos míticos.
Preparava armadilhas diabólicas. Adorava-as com fervor fanático. Mulher
é feita pra homem: prático. Dividia o vinho na ânfora. Evitava a mentira
pérfida. Acalmava o instante da cólera. Amava-as universalmente em sânscrito.
Tinha-as no peito, como uma cítara. Cantava-lhes a beleza, como um címbalo.
Derramava-se de amores, como um cântaro. Compreendia-lhes a tristeza,
profético. Oferecia-lhes conforto, bálsamo. Embalava-lhes o sono, espírito.
Nada esperava em troco. Cético. Não perdia uma chance. Rápido. Gozava
como se fosse o último. Único. Amava cada uma a seu modo. Múltiplo. Algumas
queriam-no rude. Bárbaro. Outras, mais calmo. Pródigo. Àquelas insaciáveis:
sátiro. E às que nem tanto: módico. Quando era preciso, cínico. Quase
sempre, quase sempre, lúdico. Seguiu vivendo sua vida, errático. Tido
por muitos como um louco, lunático. Até que chegou o dia, fatídico. Sentiu
primeiro no peito asmático. Em seguida doeu-lhe o nervo, o ciático. As
Deusas iluminaram o caminho, num cântico. Um átimo: e o coração explodiu
num orgasmo cardíaco.
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